Cristo Pantocrator

segunda-feira, 29 de abril de 2013

O primeiro estágio da Contemplação

continuação do post anterior...

O primeiro estágio da contemplação


O primeiro estágio da contemplação é aquele que conduz o buscador a todos os últimos estágios. A pessoa que é chamada ao primeiro estágio deve fazer o seguinte. Deve sentar-se de frente ao leste e uma vez como Adão, meditar deste modo:

'Adão então sentou-se e chorou por causa da perda das delícias do paraíso, batendo os olhos com os punhos e dizendo: "Oh Misericordioso, tenha misericórdia de mim, pois eu caí".

'Vendo o anjo conduzindo-o para fora e fechando-lhe as portas do divino jardim, Adão gemeu alto e disse: "Oh Misericordioso, tenha piedade de mim, pois eu cai". (Canon do Domingo do Perdão).

Após isto, refletindo no que colocou no lugar de Deus, ele começou a  lamentar-se neste sentido, gemendo com toda a sua alma e sacudindo a sua cabeça e dizendo com grande amargura no coração: "Ai de mim, pecador! O que aconteceu comigo? Ora, quem eu era, e em quem eu me transformei? O que eu perdi e o que eu encontrei? Ao invés do paraíso, este mundo perecível. Ao invés de Deus e da vida na companhia dos anjos, o demônio e os demônios da impureza. Em lugar de descanso, trabalho fadigante; em lugar de gozo e rejubilo, os lamentos e tribulações deste mundo; ao invés de paz e felicidade ininterrupta, medo e lágrimas de amargura. Em lugar da virtude e justiça, injustiça e pecado. Em lugar de bondade e desapego, maldade e paixão; em vez de sabedoria e intimidade com Deus, ignorância e exílio; em vez de liberdade de espírito, uma vida cheia de preocupações e o pior tipo de escravidão. Ai, ai de mim! Como, criado um rei, tornei-me um escravo da paixão? Como pude abraçar a morte ao invés da vida, por minha própria desobediência? Ora! Lamentável sou por minha negligência! O que farei? Guerra e confusão me assaltam, doença e tentação, perigo e ruína, medo e gemido, paixão e pecado, amargura e aflição. O que eu farei? Para onde fugirei? Todas as portas estão fechadas para mim", como Suzana disse.

Eu não sei o que perguntar. Se eu pergunto pela vida, eu temo as tentações da vida, seus altos e baixos, seus conflitos. Eu vejo como satan, o anjo que nasceu como a estrela da manhã (cf. Isaías 14:12), tornou-se o demônio, como o chamamos. Eu vejo como o primeiro homem criado foi enviado ao exílio (cf. Gênesis 3:23); como Caim tornou-se o assassino de seu irmão (cf. Gênesis 9:25); como Canaã foi amaldiçoada (cf. Gênesis 9:25); eu vejo os cidadãos de Sodoma queimando no fogo (cf. Gênesis 19:24-25); Esaú banido (cf. Gênesis 25:33); eu vejo os israelitas sujeitos à ira de Deus (cf. Números 14:34); eu vejo Geazi e Judas, o apóstolo, banidos porque estavam doentes pela avareza (cf. 2 Reis 5:26-27; Mateus 26: 15, 24); eu vejo David, o grande profeta e rei, lamentando seu duplo pecado (cf. Salmo 51); eu vejo Salomão, com toda sua sabedoria, caído (cf. 1 Reis 11: 9-11); eu vejo como um dos sete diáconos e um dos quarenta mártires caíram, como afirma São Basílio, o Grande. Alegremente o príncipe dos demônios apoderou-se do espírito de Judas, um dos doze; ele arrebatou o homem do Éden, e enredou um dos quarenta mártires. Em luto por ele, o mesmo grande São Basílio diz, 'Tolo e  digno de nossas lágrimas é ele, pois ele se desgarrou de ambas as  vidas: nesta vida ele foi destruído pelo fogo e na próxima foi para o fogo eterno' (Sermão dos 40 mártires 7). E eu vejo um sem número de muitos outros, que caíram; não apenas descrentes, mas também muitos dos padres, a despeito de todos os seus esforços.

Ademais, quem sou eu, senão o pior, mais renitente e mais fraco do que os outros? Do que eu me chamaria? Pois Abraão disse de si mesmo não ser  nada  a não ser 'poeira e cinza' (Gênesis 18:27); David chama a si mesmo 'cão morto' (2 Samuel 9:8) e 'uma pulga' (1 Samuel 24:14) em Israel; Salomão chama a si mesmo 'pequena criança, não discernindo o esquerdo do direito' (cf. 1 Reis 3:7); as três crianças santas dizem, 'Nós nos tornamos uma vergonha e desgraça' (Canção das Três Crianças, verso 10); Isaías o profeta diz 'Ai de mim, pois eu estou arruinado, pois sou um homem de lábios impuros' (Isaías 6:5); o profeta Habacuque diz, 'Eu sou uma criança' (Jerusalém 1:6); São Paulo diz de si mesmo, o maior dos pecadores (cf. 1 Timóteo 1:15); e todo o resto diz que eles eram nada. O que devo fazer então? Onde me esconderei de meus próprios crimes? O que farei de mim, que sou nada, pior do que nada? Pois que não pecou nada, não chegou a receber as benção de Deus que eu recebi. Ora, como passarei o resto de minha vida? E como escaparei das armadilhas do demônio? Pois os demônios não dormem e são imateriais, a morte está na mão, e eu sou fraco. Senhor, ajudai-me; não permitais que Tua criatura pereça, pois Vós cuidais de mim em minha miséria. 'Fazei-me conhecer, Senhor, para onde eu devo ir, pois levanto minha alma a Vós' (Salmo 143 : 8). "Não desamparai-me, Senhor meu Deus, não esteja longe de mim; apressai-vos em socorrer-me, Oh Senhor da minha salvação" (Salmo 38: 21-22).

Por tais palavras a alma se faria contrita, se houvesse, ao menos, alguma sensibilidade. Ao persistir neste caminho, e se acostumando ao temor de Deus, o intelecto começa a entender e meditar no segundo estágio da contemplação.

Os oito estágios da contemplaçao

Os oito estágios da contemplação

(continuação do post anterior. Páginas 108 e 109).

Os estágios da contemplação parecem-se serem oito. Sete pertencem a esta vida, enquanto que o oitavo é a atividade da era que há de vir, como diz Santo Isaque.

O primeiro estágio, de acordo com São Doroteu, é o conhecimento das tribulações e provações desta vida. Isso nos enche de tristeza por todos os danos causados à natureza humana devido ao pecado.

O segundo é o conhecimento de nossas próprias faltas e da bondade de Deus, como São João Clímaco, Santo Isaque e muitos outros padres expressaram.

O terceiro é o conhecimento das coisas terríveis que nos aguardam antes e depois de nossa morte, como revelado nas Sagradas Escrituras.

O quarto é o entendimento profundo da vida conduzida por nosso Senhor Jesus Cristo neste mundo, e das palavras e ações de Seus discípulos e outros santos, os mártires e os santos padres.

O quinto é o conhecimento da natureza e fluxo das coisas, como São Gregório e São João de Damasco estabeleceram.

O sexto é a contemplação dos seres criados, ou seja, conhecimento e entendimento da criação visível de Deus.

O sétimo é o entendimento da criação espiritual de Deus.

O oitavo é o conhecimento acerca de Deus, ou o que chamamos de "teologia".

Estes são os oito estágios da contemplação. Os três primeiros são adequados àqueles engajados nas práticas ascéticas, de modo que com lágrimas amargas possam purificar a alma de todas as paixões e sendo-lhes permitido, pela Graça de Deus, prosseguir para as etapas restantes.

Os últimos cinco estágios pertencem ao contemplativo ou gnóstico. Por meio deles mantem-se uma atenção vigilante e cuidadosa sobre as atividades tanto do corpo quanto da alma, e executa-os corretamente. Como resultado, lhe é permitido compreender estes últimos estágios claramente com seu intelecto.

Assim o homem engajado na prática ascética começa a penetrar os caminhos do conhecimento espiritual por meio dos três primeiros estágios; e por concentrar-se nesta tarefa e por meditar nos pensamentos produzidos em si, ele progride neles até que eles se estabeleçam definitivamente nele. Por este caminho, o próximo estágio de conhecimento entra automaticamente em seu intelecto. O mesmo ocorre com todos os estágios seguintes.

Para tonar as coisas mais claras, eu falarei, a despeito de minha incompetência, sobre cada estágio da contemplação, e sobre o que é entendido e dito de cada estágio. Neste sentido, podemos descobrir como devemos agir quando a graça começa a abrir os olhos da alma e nós chegamos, com grande surpresa, a compreender os pensamentos e palavras que nos instilam temor a Deus ou, em outras palavras, contrição de alma.