Cristo Pantocrator

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Uma análise mais aprofundada das sete formas de disciplina corporal

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Devemos sempre empreender o que foi dito no início deste trabalho em reconhecimento às sete formas de disciplina moral e corporal, não realizando nem mais nem menos do que lá foi recomendado. Exceções podem ser feitas se uma pessoa é jovem demais para se engajar na guerra corporal, ou se ela possui excessivo vigor físico o que requereria sete graus de disciplina correspondentes. Novamente, exceções podem ser feitas em caso de fragilidade corporal: aqui um certo descanso pode ser permitido, mas não uma suspensão total da disciplina, pois de acordo com Santo Isaac, isso pode prejudicar até o desapegado. O descanso não pode ser mais do que é necessário como um remédio para a doença, para que assim a alma não o use como uma desculpa para afrouxar seus próprios esforços. Isto ocorre fatalmente quando uma pessoa quer desesperadamente algum tipo de descanso. Este descanso, dizem os padres, pode ser perigoso para os jovens e saudáveis.

 Os santos pais São Basílio e São Máximo estabelecem que, para matar a fome e a sede, apenas pão e água são necessários, enquanto que para o vigor físico e a saúde, nós temos necessidade de outros alimentos que Deus em Sua compaixão nos entregou. Mas assim como comer sempre a mesma coisa ocasiona um sentimento de repulsa na pessoa doente, devemos nos alimentar de diferentes alimentos, um a cada vez, conforme foi dito por eles. A abstenção nos traz doença, enquanto que o autocontrole e a variação na alimentação a cada dia pode nos conduzir à saúde. O corpo então permanecerá impenetrável ao prazer e à doença, e coopera na aquisição das virtudes.

Como foi dito, tudo isso é necessário àqueles que estão engajados na luta pela purificação. Aqueles que obtiveram o estado de desapego conseguem ficar dias a fio sem comer, já que se tornaram como crianças em sua devoção a Cristo e esqueceram seus corpos. São Sisois foi tal tipo de pessoa: em seus êxtases de amor por Deus ele pediu para tomar comunhão após ter comido.  Como disse São Paulo para nosso próprio bem "se enlouquecemos em êxtase é para Deus; se nos retraímos e recuperamos o juízo, é para nossa salvação" (2 Cor 5:13). Entre outros, São Basílio, o Grande, também falou destas coisas. Certas pessoas neste estado, após ter comido bastante, não estão conscientes disso: é como se não tivessem comido nada. Pois seus intelectos não estão nos corpos de modo que não possuem consciência nem das facilidades do corpo, nem de suas dificuldades.

Isso é claro para muitos dos pais e santos mártires, bem como do santo descrito por Evágrio. Um certo ancião que vivia no deserto, ele nos conta, costumava rezar noeticamente; e aconteceu -tanto para seu benefício, quanto para muitos outros- que Deus permitiu aos demônios prendê-lo pés e mãos e arremessá-lo de um lugar alto, que ele não seria prejudicado pela queda em tal altura. Eles fizeram isso por algum tempo, testando para ver se seu intelecto desceria dos céus, mas eles não foram capazes de continuar. Quando este homem estaria consciente da necessidade de comida e água ou de qualquer necessidade física? Ou ainda, tomemos o caso de São Efrém: após ter vencido todas as paixões da alma e corpo pela Graça de Cristo, ele pediu em sua imensa humildade que o dom do desapego lhe fosse retirado para que ele não caísse na ociosidade e fosse condenado, pois com o desapego ele não precisaria mais lutar contra o inimigo. São João Clímaco estava surpreso com isso e escreveu que houve alguns, como São Efrem, que eram mais desapegados que aqueles que obtiveram o estado de desapego.