Cristo Pantocrator

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Conhecimento Espiritual Ativo

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páginas 101 a 103

Conhecimento Espiritual Ativo




Há algo como conhecimento espiritual e há total ignorância; mas o melhor de tudo é o conhecimento espiritual ativo. Qual o sentido de possuirmos todo o conhecimento, ou melhor, o recebermos de Deus  pela graça como diz Salomão (cf. I Reis 3:12) - e nunca haverá outro homem como ele- e ainda irmos para a punição vindoura? Ora, quão notável é este conhecimento para nós seres inúteis, o conhecimento que resulta de nossas ações e firme fé, pois sua consciência nos assegura nos livrarmos do castigo futuro, e não temos nenhuma razão para condenarmos-nos por negligenciar qualquer coisa que devíamos ou podíamos ter feito. Como São João Teólogo diz: "Se nosso coração não nos condena, então podemos nos aproximar de Deus com confiança" (1 João 3: 21). Mas pode ser, São Nilo diz, que nossa própria consciência nos engane, vencida pela escuridão das paixões, como São João Clímaco observa. Pois o mal pode por si mesmo escurecer o intelecto, como coloca Basílio o Grande, e a presunção pode nos deixar cegos, não nos permitindo tornarmo-nos o que supomos ser. O que, então, devemos dizer daqueles que são escravizados pelas paixões, e ainda pensam possuir uma consciência clara? Mesmo o apóstolo Paulo, onde Cristo habitou em palavra e ato, disse: "Embora a minha consciência não me acuse em nada", isto é em nenhum pecado, "ainda não estou justificado, pois quem me julga é o Senhor" (I Cor. 4:4).

Por causa de nossa grande insensibilidade muitos de nós pensamos ser algo enquanto de fato não somos nada (cf. Gálatas 6:3) : como diz São Paulo: "Quando eles estão falando sobre paz... calamidades caem sobre eles" (1 Tessalonicenses 5:3). Pois eles não possuíram paz de fato mas, como disse São João Crisóstomo, apenas falaram sobre ela, pensando em sua grande insensibilidade possuí-la. Tais pessoas, como Tiago o irmão do senhor aponta, esqueceram-se de seus pecados (cf. João 1:24), e muitas delas em seu orgulho enganam-se a si próprias, julgando-se serem desapegadas.

De fato, eu mesmo estou aterrorizado com aqueles três gigantes do demônio sobre os quais escreveu São Marcos o Asceta: a preguiça, o esquecimento e a ignorância. Pois eu sou sempre dominado por eles, e temo que por minha inconsciência de minhas limitações eu me disperse do caminho reto, como coloca São Isaías. Por tal razão eu copilei a presente coleção. A pessoa que odeia ser repreendida é obviamente sujeita à paixão do orgulho, São João Clímaco diz; mas a pessoa que coloca sobre si a culpa pela qual foi repreendido, é solto de suas amarras. Como diz Salomão, "Quando um tolo investiga sobre a sabedoria, ele é reconhecido como sábio" (cf. Provérbios 17: 28 LXX).

Eu apresentei no início os nomes dos livros e santos, de modo a não sobrecarregar meu trabalho especificando de quem cada  dito pertence. De fato, os santos padres frequentemente copiam as palavras da Divina Escritura do modo como elas são, como São Gregório o Teólogo fez com aquelas de Salomão; e Simeão Metaphrastis o Logothete disse com referência a São João Crisóstomo que seria errado não usar as palavras do santo e substituí-las pelas suas próprias. E ele podia ter feito isso mesmo, pois todos os padres foram inspirados pelo mesmo Espírito Santo. Algumas vezes ele citam seus autores, adornando suas palavras com seus nomes e em sua humildade preferindo as palavras da Escritura às suas próprias; outras vezes, por causa do grande número de citações, eles citam anonimamente, de modo a não sobrecarregar os textos.