Cristo Pantocrator

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O grande benefício do verdadeiro arrependimento

São Pedro de Damasco
Da mesma versão da Filocalia, das postagens anteriores.
Págs. 170 e 171



É sempre possível fazer um novo começo por meio do arrependimento. "Você caiu", está escrito, "agora levante" (Provérbios 24:16). Se caiu novamente, levante-se novamente, sem desesperar-se de sua salvação, não importa o que aconteça. Contanto que você não se entregue voluntariamente ao inimigo, sua paciência, combinada com auto-reprovação permanecerão e serão suficientes para a sua salvação. "Pois, uma vez que nós mesmos nos desgarramos em nossa tolice e desobediência", diz São Paulo, "ainda assim Ele nos salvou, não por conta de qualquer coisa boa que tenhamos feito, mas por Sua Misericórdia" (Tito 3, 3-5). Assim basta não desesperar em qualquer sentido, nem ignorar a ajuda de Deus, pois Ele pode fazer qualquer coisa que Ele deseje. Pelo contrário, coloque sua esperança nEle e Ele fará uma destas coisas: ou por meio de provações e tentações, ou por algum outro meio que apenas Ele conhece, Ele nos trará a restauração; ou ainda Ele aceitará a sua paciência e humildade em lugar de obras; ou por conta de sua esperança Ele agirá amavelmente para com você por algum caminho que ainda lhe é desconhecido mas que salvará sua alma agrilhoada. Apenas não abandone seu Médico, pois de outro modo você sofrerá disparatadamente uma morte dupla por não ter confiado nos desígnios ocultos de Deus. 

O que foi dito em relação ao conhecimento espiritual também se aplica à prática ascética. Toda ação da alma é envolvida por seis embustes: de um lado a outro há excesso e carência de empenho; de cima a baixo auto exaltação e desespero; de  perto e distante há tanto covardia como super ousadia as quais, como diz São Gregório, o Teólogo, é bem diferente da coragem, ainda que os termos pareçam similares. No ponto médio destas armadilhas há a ação acompanhada de justa medida e com paciência e humildade.

É notável como o intelecto humano vê coisas diferentemente de acordo com sua própria luz, mesmo quando tais coisas são inalteráveis e nelas mesmas permanecem o que são. Por conta disso não agimos da mesma maneira com relação a elas, mas as usamos de acordo com nossos desejos, sendo estes bons ou maus. Usamos coisas sensíveis em nossa atividade prática, e as coisas inteligíveis em nossos pensamentos e discussões.

Parece-me que há quatro modos de ver os homens e que estes correspondem aos quatro estágios de que fala São Gregório, o Teólogo. Alguns, como os santos e os desapegados, florescem tanto neste mundo quanto no vindouro. Outros, como o jovem rico do Evangelho (cf. Mateus 19:22) prosperam apenas neste mundo, estes, ainda que sejam abençoados de corpo e alma, são indignos dela, já que agem sem gratidão para com seu Benfeitor. Outros, como o paralítico (cf. Mateus 9:2) que são sujeitos a prolongados sofrimentos e abraçam aflições alegremente, estão punidos apenas neste mundo. Outros, finalmente, como os tentados como Judas por seus próprios desejos egoístas, são punidos tanto neste mundo quanto no que virá.

Ademais, os homens possuem quatro diferentes atitudes para com as realidades sensíveis. Alguns, como os demônios, odeiam as obras de Deus, e cometem o mal deliberadamente. Outros, como os animais irracionais, amam tais obras por serem atrativas, mas seu amor é cheio de paixão e eles não fazem nenhum esforço para adquirir a contemplação natural ou para mostrar gratidão. Outros, de maneira benéfica, amam as obras de Deus de maneira natural, com conhecimento espiritual e gratidão, e fazem uso delas com autocontrole. Finalmente, outros, como os anjos, amam tais obras de uma maneira que está acima e para além da natureza, contemplando todas as coisas para a Glória de Deus e fazendo uso delas apenas na medida em que são necessárias para a vida, como coloca São Paulo (cf. 1 Timóteo 6:8).