Cristo Pantocrator

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Como Deus fez todas as coisas para nosso benefício

Também de São Pedro de Damasco.
Continuação do Post anterior
Páginas 173 a 175.


Como Deus fez todas as coisas para nosso benefício

Deus fez todas as coisas para nosso benefício. Somos educados e guardados pelos anjos; somos tentados pelos demônios para que aprendamos a humildade e não deixemos de recorrer ao auxílio indispensável de Deus, salvando-nos da auto louvação e livrando-nos de nossa negligência. Por outro lado, somos levados a dar graças ao Nosso Benfeitor através das coisas boas deste mundo as quais sublinho a saúde, a prosperidade, o vigor físico, o descanso, a alegria, o conhecimento espiritual, a riqueza, o progresso em todas as coisas, uma vida em paz, o gozo das honras, da autoridade, a abundância e todas as outras supostas bençãos desta vida. Somos levados a amá-Lo e a fazer o bem que pudermos, porque sentimos uma obrigação natural a recompensá-Lo por Seus dons dispensados a nós para realizarmos boas obras. Claro que é impossível recompensá-Lo, pois nosso débito cresce cada vez mais. Por outro lado, por aquilo que consideramos prejuízo, obtemos um estado de paciência, humildade, esperança de bençãos na era que virá, e o que eu chamo de "prejuízos" quero dizer doença, desconforto, tribulação, fraqueza, aflição não procurada, trevas, ignorância, pobreza, infelicidade geral, medo da perda, desonra, aflição, indigência, e por ai vai. De fato, não apenas para a era que virá mas mesmo para a vida presente, tais coisas são fonte de grandes bençãos para nós.

Assim, Deus em sua bondade indizível, providenciou todas as coisas de um modo maravilhoso para nós; e se você que entender isso e ser como deve ser, esforce-se em adquirir as virtudes que o capacitarão a ser grato a tudo o que vier e a permanecer não perturbado em todas as coisas, sendo elas boas ou más. E mesmo quando os demônios sugerem algum pensamento que nos infle de orgulho e nos conduza a auto louvação, lembre-se das coisas vergonhosas que eles lhe disseram no passado, rejeite tais pensamentos e torne-se humilde. E novamente, quando eles sugerirem a você alguma coisa vergonhosa, você deve ficar atento ao que provoca pensamentos orgulhosos e com isso rejeitar novas sugestões. Assim, por intermédio da cooperação da Graça e por meio da recordação, expulsamos os demônios, e não nos afundamos no desespero aceitando suas sugestões despudoradas, ou os expulsamos de nossa mente quando lhe damos guarida por conta da nossa própria vaidade. Pelo contrário, quando nosso intelecto é exaltado, refugiemo-nos na humildade; e quando nossos inimigos nos humilharem diante de Deus, nos seguremos na esperança. Por esta via você até seu último suspiro nunca se tornará confuso ou quedará, ou, através do medo, sucumbirá ao desespero.

Este é, de acordo com o Gerontikon, o grande trabalho do monge. Quando seus inimigos lhe sugerem uma coisa, ele apresenta outra, quando apresentam esta outra coisa, ele retorna à primeira novamente, sabendo que nada nesta vida é isento de mudança, e que "aquele que perseverar até o fim será salvo" (Mateus 10:22). Mas a pessoa que quer que as coisas aconteçam como ele mesmo quer, não sabe para onde está indo, como um cego jogado de cá para lá pelo vento, ele é totalmente dominado pelo que ocorrer a ele. Como um escravo ele teme o que lhe causa aflição, e é feito cativo de sua própria vaidade; em sua alegria insana ele pensa que possui coisas nunca vistas cuja origem ele ignora totalmente - e se ele não reconhece sua ignorância, ai sim ele é ainda mais cego. Isto ocorre porque ele não se autocensura. Tal falta de autocrítica é um tipo de autossatisfação e conduz imperceptivelmente à autodestruição, como diz São Macário em seu discurso sobre o monge que viu a Jerusalém celeste: quando este monge estava rezando com algum de seus irmãos, seu intelecto foi arrebatado em êxtase, mas ele pereceu porque creu ter alcançado isso por seus próprios esforços, e não reconheceu que por esta dádiva ele havia se tornado o maior dos devedores. Como aqueles dominados pelas paixões não percebem o óbvio pelo ofuscamento produzido por suas paixões, o homem desapegado, por outro lado, por conta da pureza de seu intelecto, sabe coisas das quais o resto dos homens é ignorante.