Cristo Pantocrator

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Discurso Ascético São Nilo, parte II

O texto de São Nilo é o campeão de visualizações neste blog, o que eu jamais esperei acontecer. Aliás, tenho postado todos os dias estes textos para verificar alguma melhoria espiritual e moral em mim. Postar, é, ao mesmo tempo, tentar ajudar alguém que esteja, como eu, em perigo.  Verifiquei que o blog teve acesso em vários países, como EUA, Alemanha, França, Paraguai, Malásia, Rússia. Isso, de alguma maneira me anima a continuar me ajudando (pois sou a maior afortunada e socorrida ao fazê-lo) e ao divulgar textos de tão rara beleza, tentar ajudar aqueles que, como eu, precisam trilhar com afinco e força a estrada íngreme e terna da santidade. A fim de dar continuidade à tradução deste magnífico texto, resolvi, arbitrariamente, dividi-lo em cinco partes. Digo arbitrariamente porque o texto é corrido e fica difícil estabelecer partes para ele. Quem quiser lê-lo inteiro, terá de retornar à postagem que fiz no dia 3 de outubro. A edição que eu usei foi a mesma que já citei na postagem do dia 3 de outubro, e a tradução ainda é do Inglês. Espero que esse texto os ajude a detectar charlatães, vigaristas, preguiçosos que se fazem de santos e sábios e a não cair em sua lábia e desejo de lucro em cima da boa fé das pessoas. Num mundo em que se valoriza tanto a liderança, é preciso verificar quem é de fato líder de algo. Isso só acontece quando um homem é capaz de, pelo autocontrole, ser líder de si mesmo.
A quem quiser, recomendo que busquem no Google a "Profecia de São Nilo".

Discurso Ascético, São Nilo do Egito
Parte II

À primeira vista, parece que apenas os professores que nosso Senhor tinha em mente eram os fariseus quando Ele disse: "Ai de vós, escribas e Fariseus, hipócritas! Pois vós percorreis o mar e a terra para ganhar um prosélito, e quando ele é ganho, vós o fazeis duas vezes filho do inferno como vós mesmos". (Mateus 23:15). Mas em realidade, por censurar os Fariseus neste sentido, Ele estava advertindo aqueles que no futuro cairiam no mesmo erro; assim que, atendendo Suas palavras 'Ai de Vós...', do medo de sua condenação eles conteriam seu desejo impróprio de glória humana. Eles também recordariam o exemplo de Jó, e também o cuidado por seus discípulos que ele tinha como se fosse por suas crianças, e assim renunciariam a todo desejo de dar direção espiritual. Jó, desejando que seus filhos fossem libertos dos pecados em sua mente, ofereceu sacrifícios todos os dias em favor deles, conforme ele disse, "meus filhos pensaram o mal em seus corações contra Deus" (Jó 1:5). Mas estes homens não podem discernir nem mesmo pecados externos, porque sua inteligência é ainda obscurecida pela poeira da batalha que eles estão travando contra as paixões. Como, então, eles precipitadamente tomam sobre si mesmos a direção e cura dos outros, quando eles ainda não se curaram de suas paixões, e quando eles não podem conduzir os demais á vitória, já que eles não têm ainda obtido vitória para eles mesmos? Primeiro nós devemos lutar contra nossas próprias paixões, observando e mantendo em mente o curso da batalha; e então na base da experiência pessoal nós podemos aconselhar aos demais sobre este estado de guerra, e tornar a vitória deles mais fácil ao lhes descrever as táticas antecipadamente.

Há aqueles que ganham controle sobre as paixões por praticar grandes austeridades; mas, como acontece com as lutas noturnas, eles não sabem qual vitória ganharam, e não possuem nenhuma ideia clara das armadilhas lançadas pelos inimigos contra eles. Isto é indicado simbolicamente pelo que Josué fez: enquanto seu exército estava cruzando o Jordão à noite, ele ordenou seus homens a tomar pedras fora do rio, coloca-las no banco, e então cobri-las com cal e escrever nelas como eles passaram sobre o Jordão (cf. Josué 4: 2-9). Por este gesto ele quis dizer que pensamentos ocultos subjacentes ao nosso comportamento passional devem ser por à vista de todos e expostos ao ridículo e que não devemos nos importar de compartilhar este conhecimento com outros. Neste sentido, não só aquele que atravessou o rio sabe como ele fez, mas outros que desejem fazer o mesmo cruzarão mais facilmente porque eles foram instruídos, Por tal experiência o primeiro ensina aos demais.

Mas falta aos professores autonomeados experiência, e nem mesmo escutam o que os outros lhes fala. Confiando apenas em sua auto-segurança, eles ordenam seus irmãos a servi-los como escravos. Eles gloriam nisso uma coisa: ter muitos discípulos. Seu objetivo principal é assegurar que, quando eles vão a público, seu séquito de seguidores não seja menor do que de seus rivais. Eles se comportam como saltimbancos mais do que como educadores. Eles não se importam de sair dando ordens, ainda que onerosas, mas falham ao ensinar os outros por sua própria conduta. Assim eles tornam seu propósito claro a todos: eles se colocaram em uma posição de liderança, mas para promover seu próprio prazer.

Eles devem aprender de Abimeleque e Gideão que não são palavras mas ações que inspiram o povo a seguir um líder. Abimeleque tomou um ramo de árvore, colocou-o sobre os ombros, dizendo: 'O que me viste fazer, apressai-vos a fazer como eu' (Juízes 9:48). Gideão também compartilhou tarefas com seus homens e por seu próprio exemplo mostrou a eles o que fazer, dizendo: 'Olhe para  mim e faça o mesmo' (Juízes 7:17). Similarmente, o Apóstolo disse: 'Estas mãos me serviram para as minhas necessidades e daqueles que estavam comigo' (Atos 20:34), enquanto o próprio Senhor primeiro agiu e depois falou. Tudo isto prova que é mais convincente ensinar pelas ações do que pelas palavras.

Mas falsos mestres são cegos para tais exemplos, e arrogantemente falam aos homens o que fazer. Imaginando que eles conhecem alguma coisa sobre tais questões de segunda mão, eles são como os pastores inexperientes que foram censurados pelo profeta por carregar uma espada em seus braços: "A espada cairá de seu braço...e seu olho direito completamente se cegará" (Zacarias 11:17). Pois em sua tolice eles negligenciaram a ação correta, e assim eles extinguiram a luz da contemplação. Ainda, como pastores eles são desagradáveis e desumanos quando podem infligir castigo. Então seu conhecimento contemplativo é imediatamente destruído, e suas ações privadas de entendimento, denotam seu extravio; pois aqueles que não cingem a espada à sua coxa, mas carregam em seu braço, não podem nem ver, nem fazer nada. O 'cingir a espada à coxa' (Salmo 45: 3) significa usar o poder incisivo da inteligência para extirpar as próprias paixões enquanto que 'carregar em seu braço' significa estar pronto para punir os atos pecaminosos dos outros. Assim Naás, o Amonita, cujo nome significa 'cobra', ameaçou os israelitas presenteados com a visão contemplativa, que arrancaria seus olhos direitos (Cf Samuel 11:2), e assim, desprovê-los de qualquer entendimento correto que conduziria às ações probas. Ele sabia que quando um povo prossegue da contemplação à ação, seu entendimento correto capacita-os a fazer grande progresso. A ação é boa porque ele foi primeiro contemplado pelos olhos perspicazes do conhecimento espiritual.

A experiência mostra que a tarefa da guiar os outros deve ser empreendida por alguém que é equânime e não está em vista de nenhuma vantagem sobre os outros. Pois tal pessoa, tendo experimentado tranquilidade e contemplação, e iniciado em alguma medida a sentir paz interior, não escolherá enredar seu intelecto com cuidados corpóreos; ele não quererá se afastar do conhecimento e arrastá-lo para baixo do espiritual ao material. Este ponto está subjacente na bem conhecida parábola que Jotão disse aos homens de Siquém: "Certa vez as árvores  foram ungir um rei para elas; e elas disseram... à videira, "Venha e reina sobre nós". E a videira disse a eles: "Devo eu deixar minhas videiras, que alegram a Deus e aos homens, e ser promovida entre as árvores?". De modo similar, a figueira declinou por causa de sua doçura e a oliveira por causa de suas boas qualidades. Então o espinheiro, uma planta estéril cheia de espinhos, aceitou a soberania que eles lhe ofereceram, apesar de não possuir nenhuma boa qualidade como das árvores que estavam sujeitas a ele" (Juízes 9: 7-15). Agora nesta parábola as árvores que procuram um legislador não eram cultivadas, mas selvagens. A videira, a figueira e a oliveira recusaram-se a legislar sobre as outras árvores selvagens, preferindo carregar seus próprios frutos de preferência a ocupar uma posição de autoridade. Do mesmo modo, aqueles que percebem neles mesmos algum fruto de virtude e sentem seu benefício, recusam-se a assumir liderança mesmo quando são pressionados pelos outros, porque eles preferem este benefício a receber a honra dos homens.

O fardo que se abateu sobre as árvores na parábola também recai sobre as pessoas que agem de maneira similar. "Saia fogo do espinheiro", ele diz, "e devore as árvores da floresta; ou deixe-o sair das árvores e devore o espinheiro". Pois quando estas pessoas fazem um acordo prejudicial, inevitavelmente isso se torna perigoso não apenas para aqueles que se colocam sob a orientação de um mestre inexperiente, mas igualmente para o mestre que assume autoridade sobre discípulos desatentos. A inépcia do professor destrói os discípulos, e a negligência dos discípulos coloca em perigo o professor, especialmente quando, por causa de sua inépcia, eles crescem preguiçosos. Pois é dever do professor notar e corrigir todas as faltas de seus discípulos, e é dever do discípulo obedecer a todas as suas instruções. É uma coisa séria e perigosa para ambos cometer pecados e para  ele ser ignorado por eles.

Ninguém imaginará que ser um guia espiritual é uma licença para a facilidade e a auto-indulgência, pois nada é mais oneroso do que o cuidado das almas. Aqueles que cuidam de cavalos e outros animais os mantém sob controle e assim geralmente eles alcançam seus propósitos. Mas governar homens é difícil, por causa da variedade de suas características e astúcia deliberada. Qualquer pessoa que tenha de realizar esta tarefa deve se preparar para uma contenda severa. Ele deve tratar a falta de todos com grande paciência, e pacientemente ensiná-los coisas de que em sua ignorância eles não eram conscientes.

Esta é a razão de porque, no templo, os bois apoiassem a bacia para a lavagem (cf. I Reis 7:25); e porque o candelabro todo fosse coberto de ouro (cf. Êxodo 25:31). Agora o candelabro significa que quem pretende iluminar os outros deve ser ao mesmo tempo sólido e firmemente embasado, e não ser uma pessoa vazia ou oca; tudo nele que for supérfluo e não puder servir aos outros como um exemplo de santidade deve ser extirpado. E os bois suportando a base significa que aquele que realiza esta obra não deve rejeitar o que chega a ele, mas deve suportar os encargos e contaminação dos mais fracos que ele, desde que seja seguro a ele fazê-lo.


Pois ele está purificando as ações daqueles que vêm até ele, ele deve, em certa medida, partilhar de sua contaminação, como uma bacia de água, enquanto limpa as mãos daqueles que se lavam, recebe em si mesma a sua sujeira. Pois aquele que fala sobre as paixões e enxuga os demais limpando suas manchas não pode ele mesmo escapar sem contaminar-se, já que o ato de conversar com eles inevitavelmente contamina a mente de quem fala. E ainda que eles não descrevam os pecados com cores vívidas, por falar sobre eles, isto contamina a superfície do intelecto.

O diretor espiritual deve também possuir conhecimento de todos os dispositivos do inimigo, para que assim possa advertir aqueles sob seu encargo sobre as armadilhas para aqueles que estão inconscientes, capacitando-os assim para ganhar vitória sobre as dificuldades. Tal pessoa é rara e não facilmente encontrada. É verdadeiro o que São Paulo diz de si mesmo: "Nós não ignoramos os ardis do demônio" (2 Cor. 2:11); mas Jó pergunta em perplexidade: "Quem revelará a face de suas vestes? Quem entrará na sua couraça dobrada? E quem abrirá as portas de sua face?" (Jo 41: 13-14). O que significa algo como isto: Satan não tem face visível, por isso ele esconde sua astúcia sob muitas vestes. Ele enganosamente seduz os homens com sua aparência exterior, enquanto secretamente, à espreita, maquina sua destruição. E Jó, para mostrar que ele mesmo não é ignorante dos caminhos de Satan, fala claramente  sobre seus poderes sinistros, dizendo: "Seus olhos são como a estrela da manhã, mas suas partes interiores são víboras" (Jo 41:18). Tudo isto ele diz para expor a perversidade do demônio. Pois Satan seduz os homens ao simular a beleza da estrela da manhã, e quando os homens se aproximam, ele planeja matá-los com as víboras que estão dentro dele.

Há um provérbio que enfatiza os riscos envolvidos em empreender direção espiritual: "O que racha lenha está em perigo se o machado lhe escapa" (Eclesiastes 10: 9-10). Pois quando alguém faz distinção entre coisas que são pensadas geralmente serem as mesmas, tentando mostrar a diferença fundamental entre o que é aparentemente bom e o que é realmente bom, ele corre um grave risco: se ele cometer um erro, ele conduzirá seus ouvintes neste extravio. Lembre-se de um dos seguidores de Eliseu que estava cortando lenha para o Jordão e o machado caiu na água. Ao acontecer isso ele ficou em apuros - pois o machado era emprestado - e ele clamou ao seu mestre: "Ai de mim Mestre" (2 Reis 6:5). A mesma coisa ocorre com aqueles que tentam ensinar tendo por base o que eles entenderam erradamente dos outros, e que não podem completar a tarefa porque eles não falam de experiência pessoal. Na metade do caminho eles são desmascarados por se contradizerem a si mesmos; e então eles admitem sua ignorância, encontrando-se em apuros porque seu conhecimento é emprestado.

Na História Bíblica Eliseu então lançou um bastão no Jordão e trouxe à superfície o machado que seu discípulo havia perdido. (2 Reis 6:6), e isto quer dizer que ele revelou um pensamento que seu discípulo julgava estar profundamente ocultado e o expôs àqueles que estavam presentes. Neste contexto, Jordão significa arrependimento, pois foi no Jordão que João realizou o batismo de arrependimento. Agora se alguém não explica acuradamente sobre o arrependimento, mas faz seus ouvintes desprezá-lo por não comunicar seu poder oculto, deixando o machado cair no Jordão. Mas então um bastão - e isto significa a Cruz - traz o machado de volta das profundezas para a superfície. Pois antes da Cruz o significado do arrependimento era oculto, e quem quer que tentasse dizer alguma coisa sobre isso poderia facilmente ser convencido de falar precipitadamente e inadequadamente. Depois da Crucificação, porém, o significado do arrependimento tornou-se claro a todos e ele foi revelado no tempo apropriado através do lenho da Cruz.

Meu objetivo ao dizer todas estas coisas não é desencorajar as pessoas de assumir a direção espiritual de iniciantes, mas impeli-los a primeiro adquirir o estado interior necessário para tão grande tarefa, e não empreendê-la sem a preparação adequada. Eles não devem pensar nos prazeres que irão gozar -discípulos a servi-los, pessoas de fora a elogiá-los - e assim ignorar os perigos envolvidos. Antes que a paz tenha se estabelecido, eles não devem verter as armas da guerra em ferramentas de ensino. Quando um homem subjugou todas as paixões, ele não é mais perturbado pela guerra, nem é forçado a usar armas para autodefesa, ele pode propriamente empreender-se na direção de outras almas. Mas na medida em que as paixões nos oprimem e estamos envolvidos em guerra carnal contra a vontade da carne, nós devemos constantemente manter a apreensão de nossas armas: de outro modo nossos inimigos tomarão vantagem sobre nosso relaxo e nos dominarão sem qualquer luta.


De modo a encorajar aqueles que têm lutado com sucesso em direção à santidade, mas que em sua grande humildade pensam não ser ainda vitoriosos, diz as Escrituras: "Convertam suas espadas em arados e suas lanças em foices" ( Cf. Isaías 2:4). Isso significa que eles devem parar de se preocupar inutilmente com seus inimigos derrotados, e devem para benefício dos outros reequipar os poderes de suas almas, desviando-os da guerra para o cultivo daqueles que ainda sofrem com as sementes da perversão. Mas a Escritura dá o conselho oposto àqueles que, antes de alcançar este estágio, por inexperiência ou pura tolice empreendem o que jaz além de suas forças; a eles é dito: "Convertei de vossas espadas arados, e de vossas lanças foices" (Joel 3:10). Pois qual é a utilidade da lavoura quando a terra está em guerra, e a produção será aproveitada pelo inimigo e não por aqueles que fizeram o trabalho? Esta é a razão de provavelmente os israelitas, contanto lutavam com várias nações no deserto, não lhes era permitido tomar parte da agricultura, já que, enquanto soldados, isso os prejudicaria. Mas, uma vez que eles estabeleceram a paz com o inimigo,  lhes era permitido engajar-se na lavoura; eles mesmos disseram que até entrarem na terra prometida, não deviam plantar. Compreensivelmente, o acesso à terra prometida deve preceder o plantio; pois quando um homem não alcançou ainda a perfeição e lhe falta estabilidade, as qualidades que ele tenta implantar nos demais não ganharão raízes.

Na vida espiritual, mais do que em qualquer outra coisa, a ordem e seqüência adequadas devem ser observadas desde o início. Os convidados ao Banquete podem não se interessar pelos pratos de entrada e se sentirem mais atraídos pelos que vêm depois, mas eles são obrigados a obedecer a ordem das coisas. Assim como Jacó não se agradou dos olhos tristes de Lia e foi mais atraído pela beleza de Raquel, mas primeiro teve de servir sete anos para ganhar Lia (cf. Genesis 29:15-28). Para se tornar um verdadeiro monge um homem não deve trabalhar de trás para frente, do fim para o início, mas começar do início e assim sim avançar na perfeição. Neste caminho eles próprios receberão o que procuram, e serão capazes de guiar seus discípulos à santidade.

Muitas pessoas, no entanto, sem fazer qualquer esforço ou empreender qualquer progresso na prática da virtude, pequeno ou grande, simplesmente perseguem o status de diretor espiritual, não se dando conta do quão perigoso é isto. Quando outros os impelem ao trabalho de ensinar, eles não recusam; de fato, vagam em ruas escuras, recrutando aqueles que encontram, e prometendo todo tipo de gratificações, como se fizessem um acordo com escravos sobre alimento e vestimenta. Diretores espirituais deste tipo aparecem no público amparados por uma grande turba de assistentes e possuem a pompa exterior de abades, como se representassem um papel numa peça. Assim como não dispensam o serviço de seus discípulos, estes são forçados a atender-lhe os caprichos. eles são como um cocheiro que solta as rédeas e deixam seus cavalos a ir  onde querem. É permitido aos seus discípulos correrem soltos; arrebatados por seus desejos, eles caem em precipícios ou tropeçam em cada obstáculo que surge em seus caminhos, porque não há quem os detenha ou refreie seus impulsos desordenados.

Tais professores deviam notar como Ezequiel censurou aqueles que são indulgentes com os prazeres dos outros. Ao dar forma a todo desejo eles estão guardando para eles mesmos castigos futuros.  "Ai daquelas mulheres que fazem remendos para qualquer punho, diz Ezequiel, 'e colocam véus nas cabeças de pessoas de qualquer idade...para destruir almas por um punhado de cevada e de pão' (Ezequiel 13: 18-19). Estes falsos pregadores estão agindo do mesmo modo, pois eles sustentam suas necessidades corporais com a contribuição de seus discípulos e usam roupas costuradas como se fossem trapos. Por fazer os outros colocarem véus em suas cabeças eles causam vergonha neles, pois os homens devem rezar ou profetizar com a cabeça descoberta (cf. Cor 11:4); eles os tornam efeminados e destroem almas que não podem morrer.

A despeito de agir assim eles deveriam obedecer ao verdadeiro mestre Cristo, e recusar, na medida do possível, a assumir a direção dos outros. Pois Ele diz aos Seus discípulos: "Não sejais chamados de Rabi" (Mateus 23: 8). E se ele admoestou pedro e João e o restante dos apóstolos a evitar tais trabalhos e a considerá-los indignos de tal posição, como pode alguém julgar-se superior a eles e reivindicar para si o ofício que lhes foi barrado? Pois ao dizer "Não sejais chamados de Rabi", Ele não quis dizer que estamos livres a assumir tal ofício contanto que nós rejeitemos o título.