Cristo Pantocrator

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Theotokos

(tradução do espanhol texto "Theotokos" de John Meyendorf). O texto se encontra no livro do mesmo autor   Teología Bizantina, Ediciones Cristandade, Madrid 2002, pag. 307 a 309).

Theotokos
(J. Meyendorf. Tradução do espanhol por Rochelle Cysne)

 A única definição doutrinal sobre Maria formalmente aceita pela Igreja Bizantina é o decreto de Éfeso que a denominou Theotokos, ou "mãe de Deus". Ainda que o decreto seja explicitamente cristológico e não mariológico, corresponde ao tema da nova Eva, que surgiu na literatura teológica cristã no século II e que, à luz da concepção oriental da herança adamítica, dá testemunho de uma interpretação da liberdade humana muito mais otimista do que aquela que prevaleceu no Ocidente.
Mas o que serviu de base para o espetacular desenvolvimento de uma religiosidade centrada na pessoa de Maria, a partir do século V, foi a teologia de Cirilo de Alexandria, que afirmava a identidade pessoal ou hipostática de Jesus com o Logos preexistente, como foi retificado em Éfeso. Pelo fato de fazer-se homem, Deus se fez nosso salvador. Contudo, essa "humanização" se produziu por meio de Maria, que desse modo, é inseparável da pessoa e da ação de seu filho. E como em Jesus não há hipóstase humana e uma mãe só pode ser mãe de alguém, e não de alguma coisa, Maria é, de fato, a mãe do Logos feito carne, a "Mãe de Deus". E posto que a deificação do homem tem lugar "em Cristo", Maria é também "em Cristo" - em um sentido tão real como a participação do homem- a mãe de todo o corpo da Igreja.
Essa proximidade de Maria a Cristo contribuiu, no Oriente, a uma considerável popularidade das tradições apócrifas que testemunham sua glorificação corporal depois de sua morte. Essas tradições encontraram seu lugar mais apropriado na poesia hinográfica da festa da Dormição (Koinêsis, dia 15 de agosto), mas nunca foram objeto de especulação teológica ou de definição doutrinal. A tradição sobre a "assunção" corporal de Maria ao céu foi tratada por poetas e predicadores como sinal escatológico, como conseqüência da ressurreição de Cristo e como antecipação da ressurreição em geral. Os textos falam explicitamente da morte natural da Virgem, mas excluem qualquer conexão possível com a doutrina da Imaculada Conceição, que atribuiria a Maria a imortalidade e, portanto, resultaria totalmente incompreensível no Oriente, com sua interpretação do pecado original como mortalidade hereditária. Daí que inumeráveis expressões da devoção mariana que se encontram na liturgia bizantina não sejam mais que ilustrações da crença na união hipostática da divindade e humanidade de Cristo. Em certo sentido, representam uma maneira legítima e orgânica de aproximar ao nível dos simples fiéis, determinados conceitos abstratos da cristologia elaborada durante os séculos V e VI.

Bibliografia:
Draguet, René. Julien d'Halicarnasse et la controverse avec Sévère d'Antioche sur l'incorruptibilité du corps du Christ, Louvain, 1924.
Dubarle, A. M. L'ignorance du Christ chez S. Cyrille d'Alexandrie, "Ephemerides Theologicae Lovanienses", 16, 1939.
Gordillo, M. Mariologia orientalis, "Orientalia Christina Analecta", 141, 1954.
Mascall, E. L. (ed) The Mother of God: A Symposium (Dacre Press, London, 1949).

Agni Parthene, Virgem Pura, dos mais belos hinos dedicados a Maria.

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