Cristo Pantocrator

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Os dons universais e particulares de Deus

Continuação do post anterior
Também de São Pedro de Damasco
págs. 172 e 173.



Os dons universais e particulares de Deus

Devemos em tudo dar Graças a Deus pois Ele nos concedeu tanto os dons universais quanto os particulares da alma e do corpo. Os dons universais consistem dos quatro elementos e tudo o que existe por meio deles, como também os trabalhos maravilhosos de Deus mencionados nas Sagradas Escrituras. Os dons particulares consistem de tudo o que Deus deu a cada indivíduo. Estes incluem a riqueza, que nos permite realizar atos de caridade; a pobreza, que nos ensina a paciência e a gratidão; a autoridade que pode exercer o julgamento correto e estabelecer a virtude; a obediência e o serviço que podem mais literalmente obter a salvação da alma; a saúde que pode assistir àqueles em necessidade e empreender obras dignas a Deus; a doença, que nos dá a coroa da paciência; o conhecimento espiritual e o vigor, que nos permitem adquirir a virtude; a fraqueza e a ignorância, de modo que, voltando as costas para as coisas do mundo, possamos nos colocar sob obediência em silêncio e humildade; a perda espontânea de bens e posses, para que se possa deliberadamente buscar ser salvo e estar à mercê da solidariedade alheia quando incapaz de dar esmolas por estar sem posses; facilidade e prosperidade, para que se possa lutar voluntariamente e sofrer a fim de se atingir as virtudes e tornar-se por fim sem apegos e apto a salvar outras almas; obstáculos e dificuldades, para que aqueles que não conseguem se livrar de sua própria vontade sejam salvos a despeito de si mesmos, e aqueles capazes de suportar dificuldades com alegria atinjam a perfeição. Todas estas coisas, mesmo que opostas umas às outras, são todas boas se usadas corretamente; mas se mal usadas, elas não são boas, mas são prejudiciais tanto ao corpo quanto à alma.

Melhor que tudo, porém, é sofrer pacientemente suas aflições; e aquele que foi encontrado digno deste grande dom deve dar Graças a Deus porque ele foi o de todos, o mais abençoado. Pois ele se tornou um imitador de Cristo, de Seus santos apóstolos, e dos mártires e santos: ele recebeu de Deus grande vigor e conhecimento espiritual, de modo que ele possa voluntariamente abster-se do prazer e possa literalmente abraçar as dificuldades através da erradicação de sua própria vontade e sua rejeição de pensamentos não santos, e possa assim sempre fazer e pensar de acordo com a vontade de Deus. Aqueles que se encontram dignos de usar as coisas como devem ser usadas devem com toda a humildade dar sinceras Graças a Deus, pois por Sua Graça eles foram libertos de tudo o que é contrário à Natureza e da transgressão aos mandamentos. Nós, porém, que estamos ainda sujeitos às paixões e que ainda fazemos mau uso das coisas, e que agimos de maneira contrária à Natureza, devemos temer e com toda gratidão dar sinceras graças a nosso Benfeitor, admirados de sua paciência indizível, ainda que desobedeçamos aos seus mandamentos, fazendo mau uso de Sua criação e rejeitando Seus dons, Ele suporta nossa ingratidão e não cessa de conferir Suas benção a nós, esperando até nosso último suspiro por nossa conversão e arrependimento.

Deste  modo, devemos dar Graças a Ele, como foi dito: "Em tudo, dai graças" (1 Tessalonicenses 5;18), isto é, seja consciente de Deus o tempo todo, em todos os lugares, em todas as circunstâncias. Pois não importa o que você faça, mantenha sua mente no Criador de todas as coisas. Quando você vir a luz, não se esqueça de dar-Lhe graças; quando você vir o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles, maravilhe-se por estas coisas e glorifique ao seu Criador; quando você se vestir, reconheça todas estas dádivas e louve-O pela Divina Providência que permite a sua própria vida. Em suam, se tudo o que realizas se torna uma ocasião para Glorificar a Deus, você estará rezando sem cessar. E neste sentido sua alma sempre se regozijará, como recomenda São Paulo (cf. 1 Tessalonicenses 5:16). Assim, como explica São Doroteu, a rememoração de Deus alegra a alma; e ele invoca Davi como testemunha: "Lembrei-me de Deus e me regozijei" (cf. Salmo 77:3/ Bíblia dos Setenta).