Cristo Pantocrator

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Como a fala de Deus não é palavra solta

Continuação do post anterior
páginas 175 e 176

Como a fala de Deus não é palavra solta

A fala de Deus, diz São Máximo, não é palavra solta, e ainda que falemos longamente e com profundidade, não conseguimos pronunciar o equivalente a uma única palavra de Deus. Por exemplo, Deus diz, "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento" (Deuteronômio 6:5), no entanto, quanto foi dito e escrito acerca disso pelos padres, e ainda hoje se diz e escreve, sem conseguir-se equiparar o dito por esta sentença? Pois, como disse São Basílio o Grande, amar a Deus com toda a nossa alma significa significa não amar nada conjuntamente a Deus; mas se alguém ama sua própria alma, ele ama Deus não com toda a sua alma, mas apenas parcialmente; e se amamos a nós mesmos e também a um monte de outras coisas, como podemos amar a Deus ou ousar afirmar que o amamos? O mesmo com relação ao amor ao próximo. Se não desejamos sacrificar esta vida temporal ou talvez mesmo a vida vindoura por amor ao próximo, como fizeram Moisés e Paulo, como podemos dizer que o amamos? "Se desejas perdoar seus pecados, perdoa; mas se não, tira-me também do Livro da vida que estás a escrever" (Êxodo 32:32); enquanto São Paulo disse, "Pois eu mesmo poderia ser anátema de Cristo por amor de meus irmãos" (Romanos 9:3). Ele rogou que pudesse perecer a fim de que os demais pudessem ser salvos _ e estes outros eram os israelitas que procuravam matá-lo.

Assim são as almas dos santos: eles amam seus inimigos mais do que a si mesmos, e nesta era e na era que virá eles colocam seu próximo acima de todas as coisas, mesmo que por má vontade este possa ser seu inimigo. Eles não procuram recompensa daqueles que eles amam, mas porque eles mesmos receberam amor eles se regozijam em dar aos outros tudo o que eles têm, assim eles podem se conformar ao seu Benfeitor e imitar Sua compaixão ao máximo, "pois Ele é benigno até para com ingratos e pecadores" (cf. Lucas 6:35). De fato, quanto mais um homem é encontrado digno de receber os dons de Deus, mais ele deve se considerar um devedor de Deus, que ressuscitou e lhe concedeu o privilégio de imitar em algum grau ao seu Criador e Deus. Aguentar a injustiça com alegria, pacientemente fazer o bem a seus inimigos, dar sua própria vida pelo próximo, são dons de Deus concedidos àqueles que se prontificaram a recebê-los de Deus através de sua solicitude em cultivar a proteger o que lhes foi confiado, como foi ordenado a Adão fazer (Gênesis 2:15). Neste sentido eles se agarram aos dons através de sua gratidão para com o Benfeitor deles.  Pois nós nunca alcançamos qualquer coisa de boa por nossos próprios esforços, mas todas as nossas coisas boas provém de Deus por meio da Graça, e vêm como do nada ao ser. Pois "o que é que tenhamos que não nos foi dado?", pergunta São Paulo - nós as recebemos livremente de Deus; "e se o recebeste, por que te glorias como se não o tivesse recebido?" (I Cor 4:7). O que se alcança por si mesmo? Ora, por si mesmo não podemos alcançar nada, pois o próprio Senhor disse: "Sem Mim, nada podeis fazer". (João 15:5)