Cristo Pantocrator

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Sobre a autoestima

Sobre a autoestima

Nossa sétima luta é contra o demônio da autoestima, uma paixão multiforme e sutil que não é literalmente percebida mesmo pela pessoa que é tentada. As provocações das outras paixões são mais aparentes e, portanto, é mais fácil fazer batalha com elas, pois a alma reconhece seu inimigo e pode repeli-lo de vez refutando-o e pela oração. O vício da autoestima, porém, é difícil de lutar contra, porque ele tem muitas formas e aparece em todas as nossas atividades - no nosso modo de falar, no que dizemos e em nossos silêncios, no trabalho, nas vigílias e jejuns, na oração e leitura, na quietude e longanimidade. Por meio de tudo isso ela procura derrubar o soldado de Cristo. Quando não pode seduzir um homem com roupas extravagantes, ela procura tentá-lo por meio de andrajos. Quando não pode lisonjeá-lo com honra, ela infla-o, fazendo-o suportar o que parece desonra. Quando não pode convencê-lo a se sentir orgulhoso de sua demonstração de eloquência, ele o seduz pelo silêncio, fazendo-o crer que atingiu a quietude. Quando não pode inspirá-lo com o pensamento de uma mesa luxuriante, ele o atrai ao jejum, para ser louvado.

Em suma, cada tarefa, cada atividade, dá a este demônio malicioso uma chance para a batalha. E mesmo nos leva a imaginar que somos sacerdotes. Eu me lembro um certo ancião que, enquanto eu estava em Sketis, veio visitar um irmão em sua cela. Quando ele se aproximou de sua porta, ele ouviu alguém falando do lado de dentro, pensando que ele estava estudando as Sagradas Escrituras, ele ficou do lado de fora ouvindo, apenas para perceber que a autoestima tinha conduzido o homem para fora de sua mente e que ele estava se auto ordenando diácono e destituindo os catecúmenos. Quando o ancião ouviu isto, ele empurrou a porta e entrou. O irmão veio saudá-lo, curvou-se como de costume, e perguntou-lhe se ele esteve do lado de fora junto á porta por muito tempo. O ancião respondeu com um sorriso: "Eu cheguei há pouco, justamente quando você estava finalizando a destituição dos catecúmenos". Quando o irmão ouviu isto, ele caiu aos pés do ancião e implorou-o para rezar por ele, a fim de que pudesse ser libertado dessa ilusão. Eu me recordei deste incidente porque achei por bem mostrar a profundidade da estupidez a que este demônio pode nos conduzir.

A pessoa que quer engajar-se plenamente na luta espiritual e ganhar a coroa da justiça deve tentar por todos os meios superar esta besta que assume formas das mais variadas. Ele deve sempre manter em mente as palavras de David: "O senhor espalhará os ossos daqueles que agradar os homens" (Salmo 53;5). Ele não deve fazer qualquer coisa no intuito de ser louvado por outras pessoas, mas deve procurar a recompensa apenas de Deus, sempre rejeitando os pensamentos de autolouvor que entram em seu coração e sempre se reconhecendo como nada diante de Deus. Neste sentido ele será libertado, com a ajuda de Deus, do demônio da autoestima.

Quem merece o amor e a beleza?



Sobre a apatia, indiferença, negligência

Continuação do post anterior
Páginas 88 a 91
Tradução da versão inglesa de Rochelle Cysne

Sobre a indiferença


Nossa sexta luta é contra do demônio da apatia, que anda de mãos adas com o demônio do desânimo. Este é um demônio prejudicial terrível que sempre ataca o monge, caindo sobre ele na sexta hora (meio dia), deixando-o negligente e cheio de medo, inspirando-o a ter ódio por seu mosteiro, seus companheiros monges, por trabalho de qualquer tipo, e mesmo pela leitura das Sagradas Escrituras. Ele sugere ao monge que ele deveria ir a outro lugar e que, se ele não o fizer, todo seu tempo e esforço terá sido em vão. Além de tudo isso, ele produz por volta da sexta hora uma fome que ele teria normalmente depois de um jejum de três dias ou depois de ter uma longa jornada ou de um serviço pesado. Então ele o leva a pensar que ele não será capaz de se livrar dessa grave doença, exceto se receber dispensa frequente para visitar seus irmãos, aparentemente para ajudá-los e cuidar deles, caso não estejam bem. Quando ele não pode conduzir o monge desta maneira, ele o coloca no sono mais profundo. Em pouco tempo, seus ataques se tornam mais fortes e mais violentos, e ele não pode ser derrotado a não ser pela oração, pela rejeição da conversa inútil, pelo estudo das Sagradas Escrituras e pela paciência em face da tentação. Se ele encontra um monge desprotegido destas armas, ele o ataca com suas flechas, tornando-o um andarilho rebelde e preguiçoso, que anda de braços cruzados de mosteiro em mosteiro, pensando apenas onde ele pode conseguir algo para comer e beber. A mente de alguém afetado pela indiferença é preenchida com nada, apenas com vã distração. Finalmente ele se vê preso a coisas mundanas e gradualmente se torna tão gravemente envolvido nelas que ele abandona a vida monástica completamente.


O Apóstolo, que sabe que esta doença é de fato séria, e deseja erradicá-la de nossa alma, indica suas principais causas e diz: "Mandamos-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu. Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós, Nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão" (2 Tessalonicense 3: 6-12). (retirado da Bíblia on line: 
http://www.bibliaonline.com.br/acf/2ts/3) Nós devemos notar quão claramente o Apóstolo descreve as causas da indiferença. Aqueles que não trabalham ele chama de rebelde, expressando uma multiplicidade de faltas neste sentido. Pois um homem indisciplinado é sem reverência, impulsivo na fala, rápido no abuso e incapaz de silêncio. Ele é um escravo da indiferença. Paulo, portanto, nos diz para evitar tal pessoa, isolando-nos nós mesmos dele como de uma praga. Com as palavras 'e não de acordo com a tradição que você recebeu de nós' ele torna claro que eles são arrogantes e que eles destroem as tradições apostólicas. Novamente ele diz: 'nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando dia e noite'. O mestre das nações, o arauto do Evangelho, que foi levantado ao terceiro céu, que diz que o Senhor ordenou que 'aqueles que pregam o Evangelho devem viver pelo Evangelho' (i Cor. 9:14) - este mesmo homem trabalha noite e dia ' para que assim ele não seja um fardo para qualquer um de vós'.  O que então pode ser dito de nós, que somos apáticos com relação ao nosso trabalho e fisicamente preguiçosos - nós que não fomos confiados à proclamação do Evangelho ou o cuidado das Igrejas, mas simplesmente para o cuidado de nossa própria alma? Em seguida Paulo mostra mais claramente o dano nascido da preguiça ao acrescentar: "não trabalhando de todo, mas simplesmente se intrometendo"; pois da preguiça vem a curiosidade, e da curiosidade a indisciplina, e da indisciplina todo tipo de mal. Ele garante um remédio, porém, com as palavras: "Agora nós instruímos tais pessoas... a trabalhar tranquilamente e a comer de seu próprio pão'. Mas com maior ênfase ele diz: 'se alguém recusa-se a trabalhar, que não coma'. 

Os santos padres do Egito, que foram criados na base destes ensinamentos apostólicos, não permitem que os monges fiquem sem trabalho em qualquer momento, especialmente enquanto eles são jovens. Eles sabem que por perseverar no trabalho os monges dissipam a apatia, garantem seu próprio sustento e ajudam aqueles que estão em necessidade. Eles não apenas trabalham para suas próprias necessidades, mas a partir de seu labor eles ministram também para seus hóspedes, para os pobres, para aqueles na prisão, acreditando que tal caridade é um sacrifício santo aceitável a Deus. os padres também dizem que alguém disciplinado que trabalha é atacado e 
afligido por um único demônio, enquanto que alguém que não trabalha é tornado prisioneiro por uma miríade de maus espíritos.

É também bom lembrar o que Abba Moisés, um dos mais experientes dos padres, me disse. Eu não tinha vivido longo tempo no deserto quando eu fui atormentado pela apatia. Assim, dirigi-me a ele e disse: "Ontem eu estava gravemente perturbado e enfraquecido pela apatia, e eu não era capaz de libertar-me dela até que eu fui ver o Abba Paul."  Abba Moisés respondeu-me: "Se você precisou ir tão longe para libertar-se dela, você se rendeu completamente a ela e tornou-se seu escravo. Você deve perceber que ela vai lhe atacar ainda mais severamente porque você abandonou o seu posto, a menos que você a partir de agora a subjugue mediante paciência, oração e trabalho manual". 







“Por causa de teu amor, meu Jesus, doce amor meu, suporto as injúrias, a vergonha, as penas, todas as aflições: em uma palavra, tudo o que me ocorra.”. (Padre José, o Hesicasta)