Cristo Pantocrator

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Sobre a apatia, indiferença, negligência

Continuação do post anterior
Páginas 88 a 91
Tradução da versão inglesa de Rochelle Cysne

Sobre a indiferença


Nossa sexta luta é contra do demônio da apatia, que anda de mãos adas com o demônio do desânimo. Este é um demônio prejudicial terrível que sempre ataca o monge, caindo sobre ele na sexta hora (meio dia), deixando-o negligente e cheio de medo, inspirando-o a ter ódio por seu mosteiro, seus companheiros monges, por trabalho de qualquer tipo, e mesmo pela leitura das Sagradas Escrituras. Ele sugere ao monge que ele deveria ir a outro lugar e que, se ele não o fizer, todo seu tempo e esforço terá sido em vão. Além de tudo isso, ele produz por volta da sexta hora uma fome que ele teria normalmente depois de um jejum de três dias ou depois de ter uma longa jornada ou de um serviço pesado. Então ele o leva a pensar que ele não será capaz de se livrar dessa grave doença, exceto se receber dispensa frequente para visitar seus irmãos, aparentemente para ajudá-los e cuidar deles, caso não estejam bem. Quando ele não pode conduzir o monge desta maneira, ele o coloca no sono mais profundo. Em pouco tempo, seus ataques se tornam mais fortes e mais violentos, e ele não pode ser derrotado a não ser pela oração, pela rejeição da conversa inútil, pelo estudo das Sagradas Escrituras e pela paciência em face da tentação. Se ele encontra um monge desprotegido destas armas, ele o ataca com suas flechas, tornando-o um andarilho rebelde e preguiçoso, que anda de braços cruzados de mosteiro em mosteiro, pensando apenas onde ele pode conseguir algo para comer e beber. A mente de alguém afetado pela indiferença é preenchida com nada, apenas com vã distração. Finalmente ele se vê preso a coisas mundanas e gradualmente se torna tão gravemente envolvido nelas que ele abandona a vida monástica completamente.


O Apóstolo, que sabe que esta doença é de fato séria, e deseja erradicá-la de nossa alma, indica suas principais causas e diz: "Mandamos-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu. Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós, Nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes. Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão" (2 Tessalonicense 3: 6-12). (retirado da Bíblia on line: 
http://www.bibliaonline.com.br/acf/2ts/3) Nós devemos notar quão claramente o Apóstolo descreve as causas da indiferença. Aqueles que não trabalham ele chama de rebelde, expressando uma multiplicidade de faltas neste sentido. Pois um homem indisciplinado é sem reverência, impulsivo na fala, rápido no abuso e incapaz de silêncio. Ele é um escravo da indiferença. Paulo, portanto, nos diz para evitar tal pessoa, isolando-nos nós mesmos dele como de uma praga. Com as palavras 'e não de acordo com a tradição que você recebeu de nós' ele torna claro que eles são arrogantes e que eles destroem as tradições apostólicas. Novamente ele diz: 'nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando dia e noite'. O mestre das nações, o arauto do Evangelho, que foi levantado ao terceiro céu, que diz que o Senhor ordenou que 'aqueles que pregam o Evangelho devem viver pelo Evangelho' (i Cor. 9:14) - este mesmo homem trabalha noite e dia ' para que assim ele não seja um fardo para qualquer um de vós'.  O que então pode ser dito de nós, que somos apáticos com relação ao nosso trabalho e fisicamente preguiçosos - nós que não fomos confiados à proclamação do Evangelho ou o cuidado das Igrejas, mas simplesmente para o cuidado de nossa própria alma? Em seguida Paulo mostra mais claramente o dano nascido da preguiça ao acrescentar: "não trabalhando de todo, mas simplesmente se intrometendo"; pois da preguiça vem a curiosidade, e da curiosidade a indisciplina, e da indisciplina todo tipo de mal. Ele garante um remédio, porém, com as palavras: "Agora nós instruímos tais pessoas... a trabalhar tranquilamente e a comer de seu próprio pão'. Mas com maior ênfase ele diz: 'se alguém recusa-se a trabalhar, que não coma'. 

Os santos padres do Egito, que foram criados na base destes ensinamentos apostólicos, não permitem que os monges fiquem sem trabalho em qualquer momento, especialmente enquanto eles são jovens. Eles sabem que por perseverar no trabalho os monges dissipam a apatia, garantem seu próprio sustento e ajudam aqueles que estão em necessidade. Eles não apenas trabalham para suas próprias necessidades, mas a partir de seu labor eles ministram também para seus hóspedes, para os pobres, para aqueles na prisão, acreditando que tal caridade é um sacrifício santo aceitável a Deus. os padres também dizem que alguém disciplinado que trabalha é atacado e 
afligido por um único demônio, enquanto que alguém que não trabalha é tornado prisioneiro por uma miríade de maus espíritos.

É também bom lembrar o que Abba Moisés, um dos mais experientes dos padres, me disse. Eu não tinha vivido longo tempo no deserto quando eu fui atormentado pela apatia. Assim, dirigi-me a ele e disse: "Ontem eu estava gravemente perturbado e enfraquecido pela apatia, e eu não era capaz de libertar-me dela até que eu fui ver o Abba Paul."  Abba Moisés respondeu-me: "Se você precisou ir tão longe para libertar-se dela, você se rendeu completamente a ela e tornou-se seu escravo. Você deve perceber que ela vai lhe atacar ainda mais severamente porque você abandonou o seu posto, a menos que você a partir de agora a subjugue mediante paciência, oração e trabalho manual". 







“Por causa de teu amor, meu Jesus, doce amor meu, suporto as injúrias, a vergonha, as penas, todas as aflições: em uma palavra, tudo o que me ocorra.”. (Padre José, o Hesicasta)



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