Cristo Pantocrator

domingo, 29 de setembro de 2013

Verdadeiro Discernimento

Continuação do post anterior. Tradução da versão inglesa da Philokalia.
Páginas 158 e 159


O verdadeiro discernimento



Se, pela Graça de Deus, você recebeu o dom do discernimento, você deve em grande humildade fazer tudo para guardá-lo, de modo que você não faça nada sem ele.  De outro modo, você vai trazer para si mesmo o maior castigo por pecar conscientemente  por conta de sua negligência. Se você não recebeu este dom você não deve  pensar, dizer ou fazer qualquer coisa sem consultar outras pessoas sobre isso e sem uma base firmada na fé e na pura oração. Sem tal fé e tal oração você nunca alcançará verdadeiramente o discernimento.
O discernimento nasce da humildade. De sua posse confere-se iluminação espiritual, como diz tanto Moisés quanto São João Clímaco: tal homem prevê os desígnios ocultos dos inimigos e os frustra antes que sejam postos em operação. É como Davi diz: "Meus olhos viram os meus desejos sobre meus inimigos" (Salmo 54:7). Discernimento é caracterizado por um reconhecimento inerrante do que é bom e do que não é, e um conhecimento da vontade de Deus em tudo o que se faz. Iluminação espiritual é caracterizada, primeiro, pela consciência das próprias falhas antes de se realizar ações externas, tanto quanto consciência dos truques furtivos dos demônios; e em segundo lugar, pelo conhecimento dos mistérios ocultos nas Escrituras Divinas e na criação sensível.
Como já foi explicado, a humildade, a mãe do discernimento e da vida espiritual, tem características próprias pelas quais pode ser reconhecida. A pessoa humilde deve possuir todas as virtudes e ainda assim pensar verdadeiramente de si mesma como a maior das devedoras e inferior a todo resto da criação. Se, porém, uma pessoa não pensa deste modo, então ela pode estar segura de que ela é de fato inferior a todo o resto da criação, ainda que possa exteriormente parecer conduzir-se como um anjo. Mesmo para um verdadeiro anjo possuir tantas virtudes e tanta sabedoria não pode conformar-se à vontade do Criador a menos que possua humildade. O que, então, uma pessoa pode pensar acerca de si mesma quando se acha um anjo? Tem de perceber que lhe falta humildade, fonte de toda benção presente e futura, doadora de todo discernimento que ilumina o fim da terra e sem a qual tudo o mais é obscuro.
Discernimento não é apenas chamado luz; é a verdadeira luz. Nós necessitamos desta luz antes que digamos ou façamos qualquer coisa. Quando ela está presente, nós somos capazes de ver todo o resto com admiração. Nós podemos maravilhar-nos de como Deus, no primeiro e maior dos dias, criou a luz, de modo que o que foi posteriormente criado não pode ser invisível e, como se não existisse, como diz São João de Damascos. Digamos novamente: discernimento é luz; e a iluminação espiritual que ela gera é mais necessária do que todos os outros dons. Pois o que é mais necessário do que perceber as artimanhas dos demônios e com a ajuda de Deus proteger a própria alma? De acordo com Santo Isaac outras coisas mais necessárias a nós incluem a pureza da consciência, e de acordo com o apóstolo a santificação do corpo (cf. Romanos 12:1; I Coríntios 6: 19-20) sem a qual 'não se poderá ver o Senhor' (Hebreus 12:14).