Cristo Pantocrator

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Que não há contradição na Sagrada Escritura

Continuação do post anterior
Que não há contradição na Sagrada Escritura

Quando uma pessoa, mesmo que apenas iluminada ligeiramente, lê as Escrituras ou entoa salmos, ela encontra neles matéria para contemplação e teologia, um texto dando suporte a outro. Mas aquele cujo intelecto não está ainda  iluminado pensa que as Sagradas Escrituras são contraditórias. Ora, não há contradição nas Sagradas Escrituras: Deus proibiu que pudessem existir. Pois alguns textos são confirmados por outros, enquanto alguns outros foram escritos com referência a um tempo ou pessoa em particular. Assim, toda palavra da Escritura está além de qualquer censura. A aparência de contradição se deve à nossa ignorância. Nós não devemos encontrar falha nas Escrituras, mas no limite de nossa capacidade nós devemos entendê-las como são e não como gostaríamos que fossem, à maneira dos Gregos e Judeus. Pois os Gregos e Judeus recusaram-se a admitir que não entendiam, mas por vaidade e autossatisfação eles encontraram falhas nas Sagradas Escrituras com a ordem natural das coisas, e as interpretaram como bem entendiam e não de acordo com a vontade de Deus. Como resultado, eles foram levados ao delírio e trouxeram para si todo o tipo de mal.

A pessoa que busca pelo significado das Escrituras não terá à sua frente a sua própria opinião, má ou boa; mas, como São Basílio o Grande e São João Crisóstomo disseram, ele a tomará como Sua professora não para o aprendizado deste mundo, mas da própria Escritura. E então, se acaso este coração for puro e Deus colocar alguma coisa não premeditada nele, ele o aceitará, desde que ele possa encontrar confirmação para isso nas Escrituras, como Santo Antônio, o Grande, diz. Santo Isaac diz que os pensamentos que entram espontaneamente e sem premeditação no intelecto daqueles que perseguem uma vida de silêncio devem ser aceitos, porém investigar e concluir é um ato da própria vontade e resulta em conhecimento material.

Este é especialmente o caso de uma pessoa que não se aproxima das Escrituras através da porta da humildade mas, como diz São João Crisóstomo, sobre por outros meios, como um ladrão (cf. João 10:1) e força as passagens das Escrituras de acordo com suas metáforas. Pois ninguém é mais tolo do que aquele que força o significado das Escrituras ou encontra falha nelas para assim demonstrar seu próprio conhecimento - ou melhor, sua própria ignorância. Que tipo de conhecimento pode resultar em se adaptar o significado das Escrituras de acordo com o próprio gosto e de ousar alterar suas palavras? O verdadeiro sábio é aquele que reconhece o texto como autoridade e descobre, através da sabedoria do Espírito, os mistérios escondidos para os quais a divina Escritura testemunhar.

Os três grandes luminares, São Basílio, o Grande, São Gregório, o Teólogo e São João Crisóstomo, são excelentes exemplares disso: eles se baseiam ou no texto particular em que estão interessados, ou em alguma outra passagem da Escritura. Assim ninguém pode contradizê-los, pois eles não apresentam apoio externo para o que eles dizem, a fim de que se possa afirmar tratar-se apenas de opinião própria, mas referem-se diretamente ao texto sob discussão ou alguma outra passagem espiritual que lance luz sobre ela. E nisto eles estão corretos; pois o que eles entendem ou expõem vêm do Espírito Santo, por cuja inspiração encontraram-se dignos. Logo, ninguém faça nada nem pense se sua integridade é posta em dúvida e não pode ser atestado pela Escritura. Pois como se rejeitar algo cuja integridade a Escritura atesta claramente como estando em conformidade com a vontade de Deus, a fim de se fazer outra coisa, seja boa ou não? Apenas a paixão pode provocar tal comportamento.

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