Cristo Pantocrator

terça-feira, 30 de abril de 2013

O segundo estágio da contemplação

continuação do post anterior.
Páginas 112 a 114

Ai, ai de mim, infeliz que sou! O que posso fazer? Eu que tenho pecado enormemente. Muitas bençãos me foram concedidas, e eu estou muito fraco. São muitas as tentações: a preguiça me oprime, o esquecimento me abate de modo a não me deixar ver a mim mesmo e meus muitos crimes. Ignorância é mal; transgressão da consciência é ainda pior; virtude é difícil de alcançar, já que as tentações são muitas; os demônios são astutos e sutis; pecar é fácil; a morte é chegada; o acerto de contas é amargo. Ai de mim, o que eu farei? Como fugirei de mim? Pois eu sou a causa de minha própria destruição. Eu fui honrado com livre vontade e nada faço forçadamente. Eu pequei e o faço constantemente, e eu sou indiferente às coisas boas, ainda que ninguém me constranja a isso. A quem posso culpar? Deus, que é bom e cheio de compaixão, que sempre espera que nos voltemos a Ele com arrependimento? Os anjos, que nos amam e protegem?Os homens que também desejam meu progresso? Os demônios? Eles não podem constranger quem quer que seja quando tal pessoa, por conta de sua negligência ou desespero, escolheu destruir-se. A quem devo culpar? Certamente a mim mesmo, não?

Começo a ver minha alma sendo destruída, e ainda eu não faço nenhum esforço para embarcar em uma vida divina. Por que, oh minha alma, sois tão indiferente acerca de si mesma? Por que, quando peca, não te envergonhas diante de Deus e dos anjos do mesmo modo que o ficas diante dos homens? Ai, ai de mim, que não sinto vergonha diante de meu Criador como sinto diante dos homens. Diante dos homens não ouso pecar, mas me esforço ao máximo para parecer estar  agindo corretamente; mas diante de Deus me inundam maus pensamentos que frequentemente não me envergonham falar deles! Quanta insanidade! Ainda que peque não temo o Senhor que me assiste, e ainda não posso comentar tal ato a um simples homem para não lhe dar ensejo de corrigir-me. Ai de mim, pois eu conheço a punição e ainda assim não quero me arrepender. Eu amo o Reino dos Céus e ainda não adquiri virtude. Eu creio em Deus, mas constantemente transgrido seus mandamentos. Eu odeio o mal, mas não paro de colaborar com ele. Se rezo, logo perco o interesse e torno-me insensível. Se jejuo, torno-me orgulhoso, e causo-me ainda maior dano. Se mantenho vigília, presumo ter alcançado algo, e assim não gozo de nenhum proveito. Se leio, faço uma destas duas coisas em minha obstinação: ou leio para proveito de um saber profano e cheio de autoestima, e assim torno-me ainda mais ignorante; ou, pela leitura, não surtindo efeito no espírito tudo o que li, faz-me ainda crescer a culpa. Se, pela Graça de Deus acontece  d'eu parar de pecar em atos exteriores, eu não paro de pecar continuamente no que eu digo. E, se pela Graça de Deus devo proteger-me também disso, eu continuo a provocar a sua ira pelos meus maus pensamentos. Ai de mim, o que eu posso fazer? Onde quer que eu vá deparo-me com o pecado. Em qualquer canto há demônios. O desespero é o pior de tudo. Eu provoquei a Deus, eu entristeci seus anjos, eu frequentemente injuriei e ofendi os homens.

Eu gostaria, Senhor, de apagar a recordação de meus pecados pela lágrimas, e mediante o arrependimento viver o resto de minha existência de acordo com Tua vontade. Mas o inimigo engana-me e batalha com minha alma. Senhor, diante desse perigo eu perecerei completamente, salva-me.

Eu pequei contra Ti, salvador, como o filho pródigo; recebe-me, Pai, em meu arrependimento e tenha misericórdia de mim, oh Senhor!

Eu choro a Ti, oh Cristo meu Salvador, com a voz do publicano: sede doador de graças para comigo, como foste para com ele, e tenha misericórdia de mim, Oh Deus!

O que acontecerá nos últimos dias? O que virá depois? Quão infeliz sou! "Quem dará água à minha cabeça, e quem verterá meus olhos em fonte de lágrimas?" (Jeremias 9:1 ; Septuaginta). Quem poderá chorar por mim, tanto quanto mereço? Eu mesmo, não o posso. venham, montanhas, cobrir minha abjeção. O que tenho a dizer? Quantas bençãos tem Deus me concedido, bençãos que apenas Ele conhece, e quantas coisas terríveis em ato, palavra e pensamento eu fiz em minha ingratidão, sempre provocando Meu Benfeitor. E quanto mais longânimo Ele é, mais eu o desdenho, tornando-se mais duro meu coração do que pedras sem vida. Eu não me desespero, mas reconheço Sua grande compaixão.

Eu não tenho arrependimento, nem lágrimas. Por isso suplico a Ti, Senhor, para que eu me converta antes que eu morra e concede-me o dom do arrependimento, para que eu seja poupado do justo castigo.

Oh Senhor meu Deus, não me abandoneis, ainda que eu seja nada diante de Ti, ainda que eu seja completamente pecador. Como poderei tornar-me consciente de meus muitos pecados? Pois a menos que eu seja consciente, severa é a minha condenação. Pois Tu criaste céus e terra, e os quatro elementos e tudo o que é formado deles, como São Gregório, o Teólogo, diz. Eu manterei silêncio quanto ao restante, pois eu sou mui indigno e tenho muitos crimes, para dizer qualquer coisa. Quem, mesmo que tenha intelecto de anjo,  poderia compreender todas as bençãos incontáveis, que me foram dadas? E por causa de minha obstinação em não mudar eu os perderei todos.

Pela meditação neste caminho, um homem gradualmente avança ao terceiro estágio da meditação.




Nenhum comentário:

Postar um comentário