Continuação do post anterior
O quinto estágio da contemplação
Através do quinto estágio da contemplação, o assim chamado 'conselho' pelo profeta (cf. Isaías 11:2), chega-se a entender como a Beatitude implica a natureza cambiável das criaturas visíveis: como elas partem da terra e a ela retornam, confirmando assim as palavras do Eclesiastes: "Vaidade das vaidades; tudo é vaidade" (Eclesiastes 1:2). São João Damascos diz a mesma coisa: "Todos negócios humanos , tudo o que não existe após a morte, é vaidade. Vaidade das riquezas e da glória, que nos deixam. Quando a morte vem, todas estas coisas desaparecem". E novamente, "Verdadeiramente todas as coisas são vaidade; a vida é uma sombra e um sonho, todo homem nascido da terra desgasta-se em vão, como diz a Escritura" (cf. Salmos 39: 6). Mas o momento em que ganhamos o mundo inteiro é quando estamos na sepultura, onde rei e mendigo são iguais.
Esse blog pretende divulgar traduções de textos em grego, francês, inglês e espanhol, com o intuito de divulgar o pensamento bizantino. Pretende-se com isso ajudar os estudantes de filosofia e teologia a saber diferenciar as nuances do cristianismo oriental, bem como a orientar a todos os que anseiam por espiritualidade profunda a conhecer as obras dos Padres da Filocalia. Antes de rejeitar o cristianismo, é preciso conhecê-lo. Impossível rejeitá-lo, depois disso.
segunda-feira, 1 de julho de 2013
quarta-feira, 22 de maio de 2013
O quarto estágio da Contemplação
Continuação do post anterior. Páginas 122 a 133
O quarto estágio da contemplação
O quarto estágio da contemplação consiste no entendimento da Encarnação do Senhor e de Seu modo de vida neste mundo, a ponto tal que nos esqueçamos mesmo de comer, como escreve São Basílio, o Grande! Isto, de acordo com São João Clímaco, foi o que aconteceu ao rei Davi (cf. Salmo 102:4), quando sua mente foi tomada de êxtase com as maravilhas de Deus (Escada, etapa 7). Como diz São Basílio, ele estava perdido sem saber o que fazer em troca: "O que poderei retribuir ao Senhor por tudo aquilo que Ele me fez?" (Salmo 116:12). Para nossa salvação, Deus viveu entre os homens, por causa de nossa natureza corrompida o Logos tornou-se carne e habitou entre nós. A fonte da Benção visitou os desgraçados, o Libertador esteve entre os cativos, o Sol da Justiça sentou-se com aqueles que jaziam nas trevas. O Homem do Desapego aceitou a Cruz, iluminou o Hades, deu vida aos mortos, ressurreição aos caídos. Diante dele choraremos: "Nosso Deus, glória a Vós!" (Paraklitiks, tono 7). São João de Damascos diz: "O céu estava surpreso, e os confins da terra estava atônito, que Deus aceitasse aparecer em forma corporal para os homens e que teu útero, Oh Mãe de Deus, fosse capaz de conter os céus; por conta disso as ordens angélicas e humanas te magnificam". (Paraklitiks, tono 8) E novamente: "Todos os que ouviram estremeceram diante da inefável condescendência de Deus: como o Supremo, de sua própria vontade, desceu ao corpo e fez-se homem nascido do útero de uma virgem. Por causa disso nós magnificamos a puríssima e fiel Mãe de Nosso Deus." (Paraklitiks, tono 8).
"Venham todos e creiam. Vamos subir a montanha sagrada e celestial; libertemo-nos da materialidade, vamos ficar na cidade do Deus vivo e ver com nosso intelecto imaterial o Pai e o Espírito em chamas diante do Filho Unigênito. Tu me arrebataste e deixaste a mim com saudades de Ti, Oh Cristo, e transformaste a mim com a intensidade do Teu divino amor; com fogo imaterial consumiste meus pecados e encheste a mim com Tuas delícias, de modo que em meu gozo, Oh Senhor, eu possa louvar Tua primeira e segunda vinda". (Festa da transfiguração, Segundo Canon, Cântico 9, Tropário), Tu és toda a ternura, Oh Salvador, todo o meu desejo, verdadeiramente a meta de minha saudade insaciável; Tu és toda a beleza irresistível". (Tono 6, Canon, Cântico 8).
Se alguém pelas virtudes do corpo e da alma recebeu conhecimento destas coisas, e dos mistérios ocultos nos ditos dos santos padres, das divinas Escrituras e especialmente do Santo Evangelho, ele nunca perderá esta saudade ou cessará de derramar lágrimas vindas espontaneamente. Também nós que não fazemos mais do que ouvir as Escrituras, devemos devotarmo-nos a elas e meditar nelas tão constantemente que por nossa persistência um desejo de Deus será plantado em nossos corações, como diz São Máximo. Foi isso que os santos padres fizeram antes de adquirirem o conhecimento espiritual direto. Toda a saudade dos mártires foi dirigida somente a Deus. Eles eram unidos a Ele através do amor e entoavam a Ele louvores, como diz São João de Damascos das três santas crianças: 'Estas abençoadas crianças, arriscando suas vidas na Babilônia em nome de suas leis ancestrais, desdenharam as tolas ordens de seus reis; lançados nas chamas e ainda não consumidos, entoaram hinos dignos do UNO que as manteve salvas". (Tono 6, Canon, Cântico 8). Isto é muito natural; pois quando uma pessoa realmente percebe as maravilhas de Deus, ela fica totalmente além de si mesma e lhe parece óbvio a transitoriedade dessa vida, porque ele compreendeu as Escrituras, assim como foram postas por São Isaac.
Tal homem não é como nós: pois ainda que possamos ser influenciados por um curto tempo pelas Escrituras, nós mergulhamos novamente na escuridão por causa da preguiça, do esquecimento e da ignorância, e nos tornamos obstinados por causa de nossas paixões. Mas aquele que foi purificado por causa de suas paixões através de um dom interior percebe os mistérios ocultos em todas as Escrituras e é surpreendido por elas, especialmente pelas palavras e ações recordadas em todos os Santos Evangelhos. Ele é surpreendido em ver como a sabedoria de Deus torna o que é difícil fácil, de modo que gradualmente ela deifica o homem. Ele é preenchido com bondade, de modo que ele ama seus inimigos; ele é misericordioso como o Pai é misericordioso (cf. Lucas 6:36); ele é desapegado como Deus é desapegado; ele é dotado de todo tipo de virtude e é Perfeito como o Pai é perfeito (cf. Mateus 5:48). Em suma, a Bíblia Sagrada ensina-nos que o que convém a Deus convém também ao homem, de modo que ele se torna deus por divina adoção.
Quem não se maravilha com os ensinamentos do Divino Evangelho? Pois, simplesmente com a condição de que escolhamos corretamente, Deus nos dará repouso tanto neste mundo como no próximo, e nos concederá grande honra. É como disse o Senhor: "Aquele que se humilha será exaltado" (Lucas 18:14). São Pedro confirmou isso quando ele deixou as redes e recebeu as chaves dos céus (cf. Mateus 16:9); e cada um dos discípulos, deixando para trás o que eles tinham, recebeu aos seus cuidados o mundo inteiro nesta era e na era que vem. "O que os olhos não viram, o ouvido não ouviu, e o coração do homem não compreendeu, tais coisas Deus preparou para aqueles que O amam" (1 Cor. 2:9). Isto é verdadeiro não apenas aos apóstolos, mas também a todos aqueles que foram escolhidos no tempo presente para buscar conhecimento espiritual. Como disse um dos padres: "Mesmo que eles lutassem no deserto eles tinham repouso". Ele disse isso com referência à vida que é tranquila e livre de problema.
Quem tem grande repouso e honra, a pessoa que se devota a Deus e age de acordo, ou a pessoa que é envolvida em movimentos contínuos, tribunais e cuidados mundanos? A pessoa que sempre conversa com Deus através da meditação nas Sagradas Escrituras e nas preces e lágrimas sem distração, ou a pessoa que está sempre em movimento, que se devota à fraude e à ações sem lei que, quando vêm que elas não dão em nada, deixa-o apenas com exaustão e sentindo uma dupla morte? Considere como muitos de nós suportamos a morte dolorosa e desonrosa por nada. Inclusive, alguns por fins puramente destrutivos infligiram o maior prejuízo em suas próprias almas. Tenho em mente assaltantes, piratas, fornicadores, instigadores de brigas - todos eles pessoas que recusam a salvação e o repouso, honra e recompensa que lhes advém. Quão cegos são! Nós permanecemos mortos por causa da destruição, mas não ama a vida em prol da salvação. E se nós preferimos a morte ao Reino dos Céus, no que nós diferimos do ladrão que rouba a sepultura? Estes simplesmente por causa da comida, muitas vezes suportou a morte que está para vir, assim como a morte na vida presente.
Nós devemos fazer de Cristo nossa meta primária; pois àqueles que O escolheram, Ele confere o Reino dos Céus. Isso significa que nesta vida presente nós devemos crescer em espiritualidade acima de todas as coisas, sujeitando todas as coisas a Ele. Nós devemos governar não só as coisas externas mas também o corpo, através de nosso desapego a ele, e sobre a morte, através da coragem de nossa fé; então na vida que virá nós reinaremos em nossos corpos eternamente com Cristo através da Graça da ressurreição. A morte vem tanto ao justo quanto ao pecador, mas há uma grande diferença. Como mortais ambos morrem, e não há nada de extraordinário nisso. Mas um morre sem recompensa e possivelmente condenado; o outro é abençoado neste mundo e no próximo.
Qual é a finalidade de acumular riquezas? Mesmo a contragosto, aquele que tem muitas posses terá de entregá-las, não apenas no momento de sua morte, mas mesmo antes dela, com muita vergonha, tribulação e dor. A riqueza gera inúmeros contratempos - temor, angústia, preocupação constante e problemas buscados e não buscados - e muitos têm sofrido até mesmo morte por sua causa. Mas o santo mandamento de Deus salva todo homem de tudo isto e concede-lhe plena liberdade da angústia e medo; frequentemente, de fato, ela possibilita delícias aqueles que deliberadamente escolheram se atar às posses. Mas o que traz mais delícia do que alcançar o desapego e não estar mais ao balanço do medo ou desejar coisas mundanas? Olhando como nada as coisas que a maioria das pessoas valorizam a colocando-se acima delas, nós estamos vivendo já no paraíso, ou melhor no Reino dos Céus, libertos de todos os constrangimentos e capazes de uma devoção sem obstáculos a Deus.
Porque uma pessoa em tal estado aceita jocosamente tudo o que lhe advém, todas as coisas lhe trazem repouso; porque ele ama a qualquer um, todos o amam; porque ele é desapegado de todas as coisas, ele paira acima de tudo. Ademais, ele não deseja as coisas que as outras pessoas lutam com afinco, e que lhes traz aflição quando não conquistadas, ainda que fossem condenados ao adquiri-las. Este desapego liberta a pessoa dos sofrimentos oriundos das aquisições já nesta vida presente e na vida futura. Porque ele não quer o que não possui ele está acima e além de todo conforto e riqueza; enquanto desejar o que lhe falta é o pior tormento que um homem pode sofrer antes do sofrimento eterno. Uma pessoa nessas condições é escrava, mesmo que aparentemente seja um homem rico ou até um rei. Os mandamentos do amor não são onerosos (cf. I João 5:3). Ainda, abjetos que somos, nós não os suportaríamos com tanta impaciência se não fôssemos recompensados por isso.
Aquele que pode parcialmente entender a graça do Santo Evangelho e as coisas que nele estão contidas - dito de outro modo, as ações e ensinamentos do Senhor, Seus mandamentos e Suas doutrinas, Suas exortações e Suas promessas -conhece o tesouro inexaurível que encontrou, ainda que não seja capaz de falar de tais coisas como deveria, já que o celestial é inexprimível. Pois Cristo está oculto no Evangelho, e aquele que deseja encontrá-Lo deve primeiro vender tudo o que tem e comprar o Evangelho (cf. Mateus 13:44). Não é meramente suficiente encontrar Cristo pela leitura, mas deve também recebê-Lo em si mesmo imitando Seu modo de vida no mundo. E se ele procura Cristo, diz São Máximo, ele deve procurar não fora de si mas dentro de si mesmo. Como Cristo, ele deve tornar-se sem pecado de corpo e alma, na medida que isso é possível a um ser humano; e deve guardar o testemunho de sua consciência como todas as suas forças. Neste sentido, embora ele seja pobre aos olhos do mundo, ele regerá como um Rei sobre a sua vontade e em todos os tempos,colocando-se acima dela e rejeitando-a. Pois de que vale parecer-se um Rei quando se é escravo do temor e desejo neste mundo, enquanto na próxima vida se receberá a punição por não se ter mantido os mandamentos?
Quão desmiolados nós somos quando, pelo amor às coisas insignificantes e transitórias, nós não aspiramos receber bençãos grandiosas e eternas. Nós rejeitamos o que é bom e perseguimos o oposto. O que pode ser mais simples do que receber um copo de água e um pedaço de pão, ou do que abster-se de seus próprios desejos e pensamentos pequenos? Ainda através de tais coisas o Reino de Deus é oferecido a nós, pela graça DEle que disse: "Observai, que o Reino de Deus está entre vós" (Lucas 17:21). Pois, como diz São João Damasco, o reino de Deus não está distante, não está fora, mas dentro de nós. Isso ocorre simplesmente quando escolhemos superar as paixões e viver de acordo com a vontade de Deus. Mas se não escolhemos fazer isso, acabamos com nada. Pois o Reino de Deus, diz os Pais, é viver em conformidade com Deus; e este é o sentido da primeira e segunda vindas de Cristo.
Nós falamos da segunda vinda quando lidamos com nossa tristeza interior. Assim como a primeira vinda, aquele que através da graça e com plena consciência de alma agarro o sentido da encarnação deve exclamar em sua surpresa: Grandes sois Vós, oh Senhor, e maravilhosas são Vossas Obras; e nenhuma palavra é suficiente para cantar Vossas Maravilhas! Vede, amado Senhor, eu, Vosso Servo, que está diante de Vós, sem fala, sem movimento, esperando a luz do conhecimento espiritual que vem de Vós. Pois Vós disseste, Senhor, "Sem Mim, nada podereis fazer" (João 15:5). Logo, ensinai-me sobre Vós. Por tal razão ousei, como a irmã de Vosso Servo Lázaro (Cf. Lucas 10:39), sentar-me aos mais puros pés, assim que também possa ouvir através de meu intelecto, se não sobre Vossa incompreensível divindade, então ao menos pelo modo como Encarnaste no mundo. Deste modo, ganharei ligeira consciência do sentido em que em Vossa Graça disseste no Santo Evangelho; e como habitaste entre Nós "manso e humilde de coração" (Mateus 11:29), e como Vós mesmos disseste que podemos aprender o mesmo de Vós. Vós viveste na pobreza, ainda que de vossa arte foste rico em misericórdia; por Vossa própria escolha passaste fome e privações, ainda que oferecesses à Samaritana a água viva (cf. João 4:10), e tenhas dito: "Se alguém tiver sede, venha a Mim que lhe darei de beber" (João 7:37). Pois Vossa arte é fonte de cura e quem pode cantar Vosso Modo de vida neste mundo?
Eu sou terra, pó, cinza, um transgressor, um suicida, que pecou muitas vezes contra Vós e continua a fazê-lo; ainda assim apressastes em me conceder algo de Vossas ações e palavras; e ouso perguntar-Vos sobre elas, esperando ver-Vos pela fé, ainda que Vossa arte não seja toda visível no todo da criação. Perdoai-me minha ousadia. Pois Vós sabeis, oh Senhor, prescrutador dos corações, que eu não pergunto por curiosidade, mas procuro aprender. Eu creio que se eu me encontro digno de Vosso conhecimento espiritual, então em Vossa Compaixão Vós me concederás, como Vós fazeis a todos os que anseiam por Vós, a força para imitar a Vossa Vida na carne; pois é em virtude de Vossa encarnação que eu pela graça sou dito cristão. Embora não sejamos como Vossos discípulos, sendo capaz de suportar a morte por amor aos seus inimigos, ou de adquirir a Virtude que Vós e eles tomaram, mas cada um de nós faz o que pode de acordo com a força de sua determinação. Pois ainda que morrêssemos por amor a Vós, ainda assim nós não poderíamos Vos reparar o que Vos devemos. Pois Vós, Oh Senhor, sendo perfeito Deus e perfeito homem, viveste neste mundo sem pecado e suportaste todas as coisas em nosso nome, enquanto nós, ainda que soframos alguma coisa, as sofremos por nossa própria culpa e por nossos próprios pecados. Quem não fica maravilhado quando pensa em Vossa inexprimível auto humilhação? Pois sendo Deus, inexcrutável, todo poderoso e regente de todas as coisas, entronado acima dos querubins - que são figuras de sabedoria em sua multiplicidade - enquanto nós homens temos provocado desde o começo Vossa Ira, Vós vos humilhastes, aceitando nascer e vir até nós. Vós suportastes perseguição, apedrejamento, zombaria, insultos, golpes, ridicularização e cusparadas, em seguida a cruz e os pregos, a esponja e a cana, vinagre e fel, e todo o resto que sou tão indigno de ouvir. Então uma lança perfurou Vosso lado mais puro, e desta ferida Vós derramaste por nós Vida Eterna. Vosso precioso sangue e água.
Eu louvo Vosso nascimento e aquela que deu vosso nascimento: ela que permaneceu virgem após Vosso nascimento. Eu vos louvo na gruta, enfaixado na manjedoura. Eu Vos glorifico, que fugistes para o Egito com Vossa virginal e mais pura Mãe, que viveste em Nazaré em obediência aos Vossos pais mortais, Vosso pai adotivo e Vossa mãe verdadeira. Eu Vos louvo, batizado no Jordão por João, o Precursor - Vós, Senhor, e Vosso Pai que deste testemunho de Vós, e Vosso Espírito Santo que Vos manifestaste. Eu louvo Vosso Batismo e Vosso João Batista, Vosso profeta e Vosso servo. Eu vos glorifico pois jejuaste por nós, que voluntariamente aceitaste a tentação e triunfaste sobre o inimigo no corpo o qual expulsaste de nós, dando-nos vitória sobre ele em Vossa inexprimível sabedoria. Eu Vos glorifico pois viveste entre Vossos Discípulos, limpastes lepras, fizestes aleijados se porem de pé eretos, destes luz aos cegos, discurso e escuta aos mudos e surdos; como Vós abençoastes os pães e caminhastes sobre as águas como se fosse terra seca, conversastes com as multidões acerca das práticas das virtudes e sobre a contemplação, proclamastes o Pai e o Espírito Santo, pressagiastes as ameaças e promessas que viriam, e falastes de tudo o nos que traz salvação. Eu Vos rogo, a Vós que vencestes os inimigos; que expulsas as paixões pela raiz com Vossos sábios ensinamentos; que torna tolos os sábios e que derrubas idiotas astutos com vossa sabedoria sem limites; que ressuscitastes os mortos com Vosso poder inexprimível e derrubastes demônios com Vossa autoridade de Deus. E não apenas fizestes tais coisas por tua própria pessoa, mas destes aos Vossos servos o poder de fazer coisas ainda maiores (cf. João 14:12), de modo que pudéssemos ficar ainda mais surpresos, como Vós mesmo dissestes. Grande é o Vosso Nome, pois por Ele, Vossos santos realizaram todos os seus milagres.
Senhor Jesus Cristo, Filho e Logos de Deus, o mais terno nome de nossa salvação, grande é Vossa Glória, grandes são Vossas Obras, maravilhosas são Vossas Palavras são "mais doces do que o mel, o mel que sai dos favos" (Salmo 19:10). Glória a Vós, Oh Senhor, Glória a Vós. Quem pode glorificar e louvar Vossa Vinda na Carne, Vossa bondade, poder e sabedoria, Vossa vida neste mundo e Vossos ensinamentos? E como é que Vossos santos mandamentos nos ensinam a vida de virtude tão naturalmente e tão facilmente? Como Vós disseste, "Perdoai, e sereis perdoados" (cff. Mateus 6:14), e novamente: "Procurai e acharei, batei à porta e ela vos será aberta" (Matt. 7:7), e ainda, "O que quer que queiras que vos façam, fazei aos demais" (Matt 7:12). Quem, tendo entendido Vossos mandamentos e outros ensinamentos, não ficará atônito quando perceber Vossa sabedoria sem limites? Pois Vós sois a sabedoria de Deus, a vida de todos, o gozo dos , a luz inefável, a ressurreição dos mortos, o bom pastor que "dá a vida por suas ovelhas" (João 10:11). Eu louvo Vossa Transfiguração, Crucifixão, Sepultamento, Ressurreição, Ascensão, Vosso trono ao lado direito de Deus Pai, a descida do Espírito Santo e Vosso futuro advento, quando virá com Vosso poder e grandeza e incompreensível glória.
Eu fraquejo, meu Senhor, diante de Vossas maravilhas e tenho de refugiar-me no silêncio para não perdê-las. Comumente não sei o que fazer. Pois quando mantenho silêncio, o espanto me domina; mas se ouso dizer algo, eu pairo mudo e sou arrebatado. Eu me vejo tão indigno do céu e da terra, merecendo punição, não simplesmente por conta de meus pecados cometidos, mas muito mais por causa das bençãos recebidas sem demonstrar qualquer gratidão, desprezível como sou! Pois Vós, Senhor, que transcendes toda a bondade, preencheste minha alma com toda sorte de benção. Eu percebo apenas vagamente Vossas Obras e minha mente fica maravilhada. Meramente a olhar para Vós, reduzo-me a nada. E nem mesmo este conhecimento ou esforço é meu, pois é por Vossa Graça que conheço ou me esforço. Logo, vou colocar minha mão na boca, como fez Jó certa vez (cf. Jó 40:4), e tomarei refúgio com os santos, pois sou aturdido.

Bem aventurada Rainha do universo, sabes que não temos nenhuma intimidade com o Deus que de ti nasceste. Mas, pondo nossa confiança em ti, através de tua mediação, nós, teus servos nos prostramos diante do Senhor: pois tu podes livremente aproximar-se DEle já que Ele é teu filho e nosso Deus. Assim também eu, crente indigno que sou, suplico a ti, Mãe Santa, para que me possa ser permitido perceber os dons da graça concedidos a ti e aos outros santos, e entender por fim como podes exibir tantas virtudes. Simplesmente ao dar nascimento ao filho de Deus, tu te sobressais diante de todas as outras Criaturas. Pois Aquele que, como criador de tudo, conhece todas as coisas antes que venham à existência, achou teu ventre digno de ser Sua morada. Ninguém pode te questionar sobre seu mistério, pois elas transcendem a natureza, o pensamento e o intelecto. Justamente nós, que fomos salvos por ti, Virgem pura, te confessamos como Mãe de Deus, exaltando-lhe os coros angélicos. Pois Deus, a quem os homens não podem ver, a quem a fileira dos anjos não ousam olhar, foi por ti tornado Visível aos homens como o Logos feito carne. Glorificando O com as hostes celestes nós proclamamos a ti como bem aventurada! E como devemos chamar-te, tu que és cheia de Graça? Oh Céus, por ti o Sol da Justiça brilhou adiante? Oh Paraíso, estendeste a flor da imortalidade? Virgem, como permaneceste inviolada? Mãe pura, pois tu realizaste em teu abraço sagrado o Deus de tudo? Mãe de Deus, tu és o verdadeiro vinho, pois tiveste o fruto da vida. Nós te rogamos, intercede com tua glória com os apóstolos e todos os santos, para que Deus tenha misericórdia de nossas almas. Pois com verdadeira fé nós confessamos que tu és a Mãe de Deus e nós te bendizemos, sempre bendita. Todas as gerações te proclamam bendita como a única Mãe de Deus, mais honrada do que os querubins e incomparavelmente mais gloriosa que os serafins.
Incapaz de compreender os mistérios da mãe de Deus, eu me maravilho com a vida dos outros santos, e pergunto: Como é que se mora, Oh Batista e Mensageiro do Senhor, no deserto? Do que deveríamos chamar-lhe, oh profeta: anjo, apóstolo, mártir? Anjo, já que viveu como se não tivesse corpo; apóstolo, porque lançou as nações em suas redes; mártir, porque perdeu a cabeça por amor a Cristo. Rogue a Ele pela salvação de nossas almas. (festa da decapitação de São João Batista, Véspera). "A memória do justo é abençoada", como diz Salomão (cf. Provérbios 10:7); mas o testemunho do Senhor vos satisfaz, oh Precursor: verdadeiramente eras proclamado maior em honra do que os profetas, pois foi encontrado digno de batizar Aquele de quem profetizou.
Santos Apóstolos e discípulos do Salvador, testemunhas oculares do Seu mistério, vocês proclamaram Aquele de quem ninguém pode contemplar e que não tem origem dizendo "No princípio era o Logos" (João 1, 1). Vocês não foram criados antes dos anjos, nem aprenderam isso dos homens, mas da sabedoria que está acima de tudo. Nós lhes rogamos, então, já que têm comunhão com Deus, intercedam por nossas almas. Eu me maravilho do Amor que tiveram por Deus. E o antigo Tropário diz: "Senhor, os apóstolos verdadeiramente ansiaram por Vós na terra, eles consideraram que todas as coisas eram esterco, a fim de que pudessem ganhar apenas a Vós" (Cf. Filipenses 3:8). Por Vós eles deram seus corpos para a tortura e foram glorificados e por conta disso eles intercedem por nossas almas". Como é que sendo homens, como nós somos, e vestindo essa carne de barro, vocês mereceram tais virtudes, de modo que suportaram a morte para a felicidade e bem daqueles que lhes mataram? Como, sendo tão poucos, conquistaram o mundo inteiro? Como, sendo simples e iletrados, superaram reis e legisladores? Como, sendo nus, desarmados e pobres, encarcerados numa carne fraca, derrotaram demônios invisíveis? E que força era maior do que a fé, ela que os capacitou a receber o Espírito Santo - vocês e os santos mártires que lutaram o bom combate e receberam suas coroas? Apóstolos, mártires, profetas, hierarcas, santos homens, nós vos rogamos que intercedam com Cristo de modo que pela Sua bondade Ele nos salve as almas.
Quem não se admira quando vê, Oh santos mártires, o bom combate que lutaram? Sendo corpóreos venceram o inimigo incorpóreo, bastando-lhes confessar Cristo e se armarem com a Cruz. Apenas com isso revelaram ser capazes de expelir demônios e inimigos de bárbaros poderes. Intercedam sem cessar pela salvação de nossas almas. Como as três crianças na fornalha ardente, vocês suportaram suas provações na esperança de uma recompensa, mas por amor a Deus, como elas declararam: "Mesmo que Deus não nos livrasse, ainda assim não haveria nenhuma razão para nós O negarmos como alguém que não salva" (cf. Daniel 3: 17-18). Eu me maravilho desta extrema humildade, santas crianças, pois mesmo envolvidas em chamas, vocês declararam não saber como não dar graças a Deus. "Não há neste momento nenhum príncipe, profeta, líder ou holocausto", diziam, "... mas porque nós viemos com um coração contrito e espírito humilhado, aceita-nos" (Canção das 3 crianças, versos 15 e 16). Eu me maravilho do poder de Deus que preencheu estas crianças, assim como Elias o profeta; como disse São João Damascos: "Oh chama, tens feito cair o orvalho sobre teus santos" (Canção das 3 crianças, verso 27), "e queimaste com água o sacrifício do Justo" (cf. I Reis 18:38). "Pois fazeis todas as coisas, Oh Cristo, simplesmente apenas por Vossa vontade". Aliás, o que contemplarei em primeiro lugar? O testemunho encontrado nos Evangelhos, ou os Atos dos Apóstolos? As lutas dos mártires, ou a batalha dos santos padres, ou dos santos antigos e recentes, tanto homens quanto mulheres? Suas vidas e ditos, ou seus poderes de interpretação e discernimento? Estou perdido e maravilhado.
Mas eu Vos rogo, senhor Compassivo, não me permita ser condenado por causa da maneira indigna e estéril em que eu contemplo os grandes mistérios que Vós revelastes aos Vossos santos, e através deles a mim, um pecador e Vosso indigno servo. Pois veja, Senhor, Vosso servo coloca-se perante Vós, ocioso em todas as coisas, sem fala, como alguém que jaz morto; e eu não ouso dizer qualquer coisa a mais presunçosamente para vir a contemplar mais tarde. Mas como sempre me caio diante de Vós, chorando das profundezas da minha alma e dizendo, "Mestre e Senhor rio em misericórdia, Senhor Jesus Cristo..." e o resto da oração. (Aqui deve-se meditar na segunda oração e nos salmos, observando a conduta de nossa alma e corpo, para que se desenvolva uma disposição receptiva aos divinos pensamentos. Então você será capaz de com plena consciência entender todos os mistérios e milagres ocultos nas Sagradas Escrituras. Surpreendido neste sentido com os dons de Deus, você virá a ama-Lo e a sofrer por seu amor com alegria, como fizeram todos os santos. Pois as sagradas Escrituras são plenas de coisas maravilhosas, como diz Salomão).
Juntamente a outras maravilhas, eu me admiro do poder de Deus como se manifestou no maná. Pois o maná não preservou a mesma forma até o dia seguinte, mas dissolveu e foi encontrado cheio de vermes (cf. Êxodo 16:20). Isso foi para prevenir aqueles que faltaram com a fé preocupando-se eles mesmos com o dia seguinte. Mas no jarro estava no tabernáculo permaneceu imutável (cf. Êxodo 16: 32-34). Novamente quando cozido com fogo o maná não era queimado; ainda que dissolvido no menor raio de luz do sol, para que o ganancioso não exigisse mais do que o necessário para mantê-lo vivo. Quão maravilhosamente Deus trabalha em todo lugar para a salvação dos homens, como diz o Senhor em relação à divina providência: "Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" (João 5:17). Aquele que medita nisso é exteriormente educado pelas Sagradas Escrituras, e interiormente pela divina providência. Ele começa a ver as coisas em sua verdadeira natureza, como dizem São Gregório de Nissa e São João de Damascos. Ele não é mais enganado pelo aspecto atrativo das coisas deste mundo, tais como beleza física, riqueza, glória transitória e etc; nem é seduzido pelas sombras que eles deixam, como são ainda aqueles sujeitos às paixões.
O quarto estágio da contemplação
O quarto estágio da contemplação consiste no entendimento da Encarnação do Senhor e de Seu modo de vida neste mundo, a ponto tal que nos esqueçamos mesmo de comer, como escreve São Basílio, o Grande! Isto, de acordo com São João Clímaco, foi o que aconteceu ao rei Davi (cf. Salmo 102:4), quando sua mente foi tomada de êxtase com as maravilhas de Deus (Escada, etapa 7). Como diz São Basílio, ele estava perdido sem saber o que fazer em troca: "O que poderei retribuir ao Senhor por tudo aquilo que Ele me fez?" (Salmo 116:12). Para nossa salvação, Deus viveu entre os homens, por causa de nossa natureza corrompida o Logos tornou-se carne e habitou entre nós. A fonte da Benção visitou os desgraçados, o Libertador esteve entre os cativos, o Sol da Justiça sentou-se com aqueles que jaziam nas trevas. O Homem do Desapego aceitou a Cruz, iluminou o Hades, deu vida aos mortos, ressurreição aos caídos. Diante dele choraremos: "Nosso Deus, glória a Vós!" (Paraklitiks, tono 7). São João de Damascos diz: "O céu estava surpreso, e os confins da terra estava atônito, que Deus aceitasse aparecer em forma corporal para os homens e que teu útero, Oh Mãe de Deus, fosse capaz de conter os céus; por conta disso as ordens angélicas e humanas te magnificam". (Paraklitiks, tono 8) E novamente: "Todos os que ouviram estremeceram diante da inefável condescendência de Deus: como o Supremo, de sua própria vontade, desceu ao corpo e fez-se homem nascido do útero de uma virgem. Por causa disso nós magnificamos a puríssima e fiel Mãe de Nosso Deus." (Paraklitiks, tono 8).
"Venham todos e creiam. Vamos subir a montanha sagrada e celestial; libertemo-nos da materialidade, vamos ficar na cidade do Deus vivo e ver com nosso intelecto imaterial o Pai e o Espírito em chamas diante do Filho Unigênito. Tu me arrebataste e deixaste a mim com saudades de Ti, Oh Cristo, e transformaste a mim com a intensidade do Teu divino amor; com fogo imaterial consumiste meus pecados e encheste a mim com Tuas delícias, de modo que em meu gozo, Oh Senhor, eu possa louvar Tua primeira e segunda vinda". (Festa da transfiguração, Segundo Canon, Cântico 9, Tropário), Tu és toda a ternura, Oh Salvador, todo o meu desejo, verdadeiramente a meta de minha saudade insaciável; Tu és toda a beleza irresistível". (Tono 6, Canon, Cântico 8).
Se alguém pelas virtudes do corpo e da alma recebeu conhecimento destas coisas, e dos mistérios ocultos nos ditos dos santos padres, das divinas Escrituras e especialmente do Santo Evangelho, ele nunca perderá esta saudade ou cessará de derramar lágrimas vindas espontaneamente. Também nós que não fazemos mais do que ouvir as Escrituras, devemos devotarmo-nos a elas e meditar nelas tão constantemente que por nossa persistência um desejo de Deus será plantado em nossos corações, como diz São Máximo. Foi isso que os santos padres fizeram antes de adquirirem o conhecimento espiritual direto. Toda a saudade dos mártires foi dirigida somente a Deus. Eles eram unidos a Ele através do amor e entoavam a Ele louvores, como diz São João de Damascos das três santas crianças: 'Estas abençoadas crianças, arriscando suas vidas na Babilônia em nome de suas leis ancestrais, desdenharam as tolas ordens de seus reis; lançados nas chamas e ainda não consumidos, entoaram hinos dignos do UNO que as manteve salvas". (Tono 6, Canon, Cântico 8). Isto é muito natural; pois quando uma pessoa realmente percebe as maravilhas de Deus, ela fica totalmente além de si mesma e lhe parece óbvio a transitoriedade dessa vida, porque ele compreendeu as Escrituras, assim como foram postas por São Isaac.
Tal homem não é como nós: pois ainda que possamos ser influenciados por um curto tempo pelas Escrituras, nós mergulhamos novamente na escuridão por causa da preguiça, do esquecimento e da ignorância, e nos tornamos obstinados por causa de nossas paixões. Mas aquele que foi purificado por causa de suas paixões através de um dom interior percebe os mistérios ocultos em todas as Escrituras e é surpreendido por elas, especialmente pelas palavras e ações recordadas em todos os Santos Evangelhos. Ele é surpreendido em ver como a sabedoria de Deus torna o que é difícil fácil, de modo que gradualmente ela deifica o homem. Ele é preenchido com bondade, de modo que ele ama seus inimigos; ele é misericordioso como o Pai é misericordioso (cf. Lucas 6:36); ele é desapegado como Deus é desapegado; ele é dotado de todo tipo de virtude e é Perfeito como o Pai é perfeito (cf. Mateus 5:48). Em suma, a Bíblia Sagrada ensina-nos que o que convém a Deus convém também ao homem, de modo que ele se torna deus por divina adoção.
Quem não se maravilha com os ensinamentos do Divino Evangelho? Pois, simplesmente com a condição de que escolhamos corretamente, Deus nos dará repouso tanto neste mundo como no próximo, e nos concederá grande honra. É como disse o Senhor: "Aquele que se humilha será exaltado" (Lucas 18:14). São Pedro confirmou isso quando ele deixou as redes e recebeu as chaves dos céus (cf. Mateus 16:9); e cada um dos discípulos, deixando para trás o que eles tinham, recebeu aos seus cuidados o mundo inteiro nesta era e na era que vem. "O que os olhos não viram, o ouvido não ouviu, e o coração do homem não compreendeu, tais coisas Deus preparou para aqueles que O amam" (1 Cor. 2:9). Isto é verdadeiro não apenas aos apóstolos, mas também a todos aqueles que foram escolhidos no tempo presente para buscar conhecimento espiritual. Como disse um dos padres: "Mesmo que eles lutassem no deserto eles tinham repouso". Ele disse isso com referência à vida que é tranquila e livre de problema.
Quem tem grande repouso e honra, a pessoa que se devota a Deus e age de acordo, ou a pessoa que é envolvida em movimentos contínuos, tribunais e cuidados mundanos? A pessoa que sempre conversa com Deus através da meditação nas Sagradas Escrituras e nas preces e lágrimas sem distração, ou a pessoa que está sempre em movimento, que se devota à fraude e à ações sem lei que, quando vêm que elas não dão em nada, deixa-o apenas com exaustão e sentindo uma dupla morte? Considere como muitos de nós suportamos a morte dolorosa e desonrosa por nada. Inclusive, alguns por fins puramente destrutivos infligiram o maior prejuízo em suas próprias almas. Tenho em mente assaltantes, piratas, fornicadores, instigadores de brigas - todos eles pessoas que recusam a salvação e o repouso, honra e recompensa que lhes advém. Quão cegos são! Nós permanecemos mortos por causa da destruição, mas não ama a vida em prol da salvação. E se nós preferimos a morte ao Reino dos Céus, no que nós diferimos do ladrão que rouba a sepultura? Estes simplesmente por causa da comida, muitas vezes suportou a morte que está para vir, assim como a morte na vida presente.
Nós devemos fazer de Cristo nossa meta primária; pois àqueles que O escolheram, Ele confere o Reino dos Céus. Isso significa que nesta vida presente nós devemos crescer em espiritualidade acima de todas as coisas, sujeitando todas as coisas a Ele. Nós devemos governar não só as coisas externas mas também o corpo, através de nosso desapego a ele, e sobre a morte, através da coragem de nossa fé; então na vida que virá nós reinaremos em nossos corpos eternamente com Cristo através da Graça da ressurreição. A morte vem tanto ao justo quanto ao pecador, mas há uma grande diferença. Como mortais ambos morrem, e não há nada de extraordinário nisso. Mas um morre sem recompensa e possivelmente condenado; o outro é abençoado neste mundo e no próximo.
Qual é a finalidade de acumular riquezas? Mesmo a contragosto, aquele que tem muitas posses terá de entregá-las, não apenas no momento de sua morte, mas mesmo antes dela, com muita vergonha, tribulação e dor. A riqueza gera inúmeros contratempos - temor, angústia, preocupação constante e problemas buscados e não buscados - e muitos têm sofrido até mesmo morte por sua causa. Mas o santo mandamento de Deus salva todo homem de tudo isto e concede-lhe plena liberdade da angústia e medo; frequentemente, de fato, ela possibilita delícias aqueles que deliberadamente escolheram se atar às posses. Mas o que traz mais delícia do que alcançar o desapego e não estar mais ao balanço do medo ou desejar coisas mundanas? Olhando como nada as coisas que a maioria das pessoas valorizam a colocando-se acima delas, nós estamos vivendo já no paraíso, ou melhor no Reino dos Céus, libertos de todos os constrangimentos e capazes de uma devoção sem obstáculos a Deus.
Porque uma pessoa em tal estado aceita jocosamente tudo o que lhe advém, todas as coisas lhe trazem repouso; porque ele ama a qualquer um, todos o amam; porque ele é desapegado de todas as coisas, ele paira acima de tudo. Ademais, ele não deseja as coisas que as outras pessoas lutam com afinco, e que lhes traz aflição quando não conquistadas, ainda que fossem condenados ao adquiri-las. Este desapego liberta a pessoa dos sofrimentos oriundos das aquisições já nesta vida presente e na vida futura. Porque ele não quer o que não possui ele está acima e além de todo conforto e riqueza; enquanto desejar o que lhe falta é o pior tormento que um homem pode sofrer antes do sofrimento eterno. Uma pessoa nessas condições é escrava, mesmo que aparentemente seja um homem rico ou até um rei. Os mandamentos do amor não são onerosos (cf. I João 5:3). Ainda, abjetos que somos, nós não os suportaríamos com tanta impaciência se não fôssemos recompensados por isso.
Aquele que pode parcialmente entender a graça do Santo Evangelho e as coisas que nele estão contidas - dito de outro modo, as ações e ensinamentos do Senhor, Seus mandamentos e Suas doutrinas, Suas exortações e Suas promessas -conhece o tesouro inexaurível que encontrou, ainda que não seja capaz de falar de tais coisas como deveria, já que o celestial é inexprimível. Pois Cristo está oculto no Evangelho, e aquele que deseja encontrá-Lo deve primeiro vender tudo o que tem e comprar o Evangelho (cf. Mateus 13:44). Não é meramente suficiente encontrar Cristo pela leitura, mas deve também recebê-Lo em si mesmo imitando Seu modo de vida no mundo. E se ele procura Cristo, diz São Máximo, ele deve procurar não fora de si mas dentro de si mesmo. Como Cristo, ele deve tornar-se sem pecado de corpo e alma, na medida que isso é possível a um ser humano; e deve guardar o testemunho de sua consciência como todas as suas forças. Neste sentido, embora ele seja pobre aos olhos do mundo, ele regerá como um Rei sobre a sua vontade e em todos os tempos,colocando-se acima dela e rejeitando-a. Pois de que vale parecer-se um Rei quando se é escravo do temor e desejo neste mundo, enquanto na próxima vida se receberá a punição por não se ter mantido os mandamentos?
Quão desmiolados nós somos quando, pelo amor às coisas insignificantes e transitórias, nós não aspiramos receber bençãos grandiosas e eternas. Nós rejeitamos o que é bom e perseguimos o oposto. O que pode ser mais simples do que receber um copo de água e um pedaço de pão, ou do que abster-se de seus próprios desejos e pensamentos pequenos? Ainda através de tais coisas o Reino de Deus é oferecido a nós, pela graça DEle que disse: "Observai, que o Reino de Deus está entre vós" (Lucas 17:21). Pois, como diz São João Damasco, o reino de Deus não está distante, não está fora, mas dentro de nós. Isso ocorre simplesmente quando escolhemos superar as paixões e viver de acordo com a vontade de Deus. Mas se não escolhemos fazer isso, acabamos com nada. Pois o Reino de Deus, diz os Pais, é viver em conformidade com Deus; e este é o sentido da primeira e segunda vindas de Cristo.
Nós falamos da segunda vinda quando lidamos com nossa tristeza interior. Assim como a primeira vinda, aquele que através da graça e com plena consciência de alma agarro o sentido da encarnação deve exclamar em sua surpresa: Grandes sois Vós, oh Senhor, e maravilhosas são Vossas Obras; e nenhuma palavra é suficiente para cantar Vossas Maravilhas! Vede, amado Senhor, eu, Vosso Servo, que está diante de Vós, sem fala, sem movimento, esperando a luz do conhecimento espiritual que vem de Vós. Pois Vós disseste, Senhor, "Sem Mim, nada podereis fazer" (João 15:5). Logo, ensinai-me sobre Vós. Por tal razão ousei, como a irmã de Vosso Servo Lázaro (Cf. Lucas 10:39), sentar-me aos mais puros pés, assim que também possa ouvir através de meu intelecto, se não sobre Vossa incompreensível divindade, então ao menos pelo modo como Encarnaste no mundo. Deste modo, ganharei ligeira consciência do sentido em que em Vossa Graça disseste no Santo Evangelho; e como habitaste entre Nós "manso e humilde de coração" (Mateus 11:29), e como Vós mesmos disseste que podemos aprender o mesmo de Vós. Vós viveste na pobreza, ainda que de vossa arte foste rico em misericórdia; por Vossa própria escolha passaste fome e privações, ainda que oferecesses à Samaritana a água viva (cf. João 4:10), e tenhas dito: "Se alguém tiver sede, venha a Mim que lhe darei de beber" (João 7:37). Pois Vossa arte é fonte de cura e quem pode cantar Vosso Modo de vida neste mundo?
Eu sou terra, pó, cinza, um transgressor, um suicida, que pecou muitas vezes contra Vós e continua a fazê-lo; ainda assim apressastes em me conceder algo de Vossas ações e palavras; e ouso perguntar-Vos sobre elas, esperando ver-Vos pela fé, ainda que Vossa arte não seja toda visível no todo da criação. Perdoai-me minha ousadia. Pois Vós sabeis, oh Senhor, prescrutador dos corações, que eu não pergunto por curiosidade, mas procuro aprender. Eu creio que se eu me encontro digno de Vosso conhecimento espiritual, então em Vossa Compaixão Vós me concederás, como Vós fazeis a todos os que anseiam por Vós, a força para imitar a Vossa Vida na carne; pois é em virtude de Vossa encarnação que eu pela graça sou dito cristão. Embora não sejamos como Vossos discípulos, sendo capaz de suportar a morte por amor aos seus inimigos, ou de adquirir a Virtude que Vós e eles tomaram, mas cada um de nós faz o que pode de acordo com a força de sua determinação. Pois ainda que morrêssemos por amor a Vós, ainda assim nós não poderíamos Vos reparar o que Vos devemos. Pois Vós, Oh Senhor, sendo perfeito Deus e perfeito homem, viveste neste mundo sem pecado e suportaste todas as coisas em nosso nome, enquanto nós, ainda que soframos alguma coisa, as sofremos por nossa própria culpa e por nossos próprios pecados. Quem não fica maravilhado quando pensa em Vossa inexprimível auto humilhação? Pois sendo Deus, inexcrutável, todo poderoso e regente de todas as coisas, entronado acima dos querubins - que são figuras de sabedoria em sua multiplicidade - enquanto nós homens temos provocado desde o começo Vossa Ira, Vós vos humilhastes, aceitando nascer e vir até nós. Vós suportastes perseguição, apedrejamento, zombaria, insultos, golpes, ridicularização e cusparadas, em seguida a cruz e os pregos, a esponja e a cana, vinagre e fel, e todo o resto que sou tão indigno de ouvir. Então uma lança perfurou Vosso lado mais puro, e desta ferida Vós derramaste por nós Vida Eterna. Vosso precioso sangue e água.
Eu louvo Vosso nascimento e aquela que deu vosso nascimento: ela que permaneceu virgem após Vosso nascimento. Eu vos louvo na gruta, enfaixado na manjedoura. Eu Vos glorifico, que fugistes para o Egito com Vossa virginal e mais pura Mãe, que viveste em Nazaré em obediência aos Vossos pais mortais, Vosso pai adotivo e Vossa mãe verdadeira. Eu Vos louvo, batizado no Jordão por João, o Precursor - Vós, Senhor, e Vosso Pai que deste testemunho de Vós, e Vosso Espírito Santo que Vos manifestaste. Eu louvo Vosso Batismo e Vosso João Batista, Vosso profeta e Vosso servo. Eu vos glorifico pois jejuaste por nós, que voluntariamente aceitaste a tentação e triunfaste sobre o inimigo no corpo o qual expulsaste de nós, dando-nos vitória sobre ele em Vossa inexprimível sabedoria. Eu Vos glorifico pois viveste entre Vossos Discípulos, limpastes lepras, fizestes aleijados se porem de pé eretos, destes luz aos cegos, discurso e escuta aos mudos e surdos; como Vós abençoastes os pães e caminhastes sobre as águas como se fosse terra seca, conversastes com as multidões acerca das práticas das virtudes e sobre a contemplação, proclamastes o Pai e o Espírito Santo, pressagiastes as ameaças e promessas que viriam, e falastes de tudo o nos que traz salvação. Eu Vos rogo, a Vós que vencestes os inimigos; que expulsas as paixões pela raiz com Vossos sábios ensinamentos; que torna tolos os sábios e que derrubas idiotas astutos com vossa sabedoria sem limites; que ressuscitastes os mortos com Vosso poder inexprimível e derrubastes demônios com Vossa autoridade de Deus. E não apenas fizestes tais coisas por tua própria pessoa, mas destes aos Vossos servos o poder de fazer coisas ainda maiores (cf. João 14:12), de modo que pudéssemos ficar ainda mais surpresos, como Vós mesmo dissestes. Grande é o Vosso Nome, pois por Ele, Vossos santos realizaram todos os seus milagres.
Senhor Jesus Cristo, Filho e Logos de Deus, o mais terno nome de nossa salvação, grande é Vossa Glória, grandes são Vossas Obras, maravilhosas são Vossas Palavras são "mais doces do que o mel, o mel que sai dos favos" (Salmo 19:10). Glória a Vós, Oh Senhor, Glória a Vós. Quem pode glorificar e louvar Vossa Vinda na Carne, Vossa bondade, poder e sabedoria, Vossa vida neste mundo e Vossos ensinamentos? E como é que Vossos santos mandamentos nos ensinam a vida de virtude tão naturalmente e tão facilmente? Como Vós disseste, "Perdoai, e sereis perdoados" (cff. Mateus 6:14), e novamente: "Procurai e acharei, batei à porta e ela vos será aberta" (Matt. 7:7), e ainda, "O que quer que queiras que vos façam, fazei aos demais" (Matt 7:12). Quem, tendo entendido Vossos mandamentos e outros ensinamentos, não ficará atônito quando perceber Vossa sabedoria sem limites? Pois Vós sois a sabedoria de Deus, a vida de todos, o gozo dos , a luz inefável, a ressurreição dos mortos, o bom pastor que "dá a vida por suas ovelhas" (João 10:11). Eu louvo Vossa Transfiguração, Crucifixão, Sepultamento, Ressurreição, Ascensão, Vosso trono ao lado direito de Deus Pai, a descida do Espírito Santo e Vosso futuro advento, quando virá com Vosso poder e grandeza e incompreensível glória.
Eu fraquejo, meu Senhor, diante de Vossas maravilhas e tenho de refugiar-me no silêncio para não perdê-las. Comumente não sei o que fazer. Pois quando mantenho silêncio, o espanto me domina; mas se ouso dizer algo, eu pairo mudo e sou arrebatado. Eu me vejo tão indigno do céu e da terra, merecendo punição, não simplesmente por conta de meus pecados cometidos, mas muito mais por causa das bençãos recebidas sem demonstrar qualquer gratidão, desprezível como sou! Pois Vós, Senhor, que transcendes toda a bondade, preencheste minha alma com toda sorte de benção. Eu percebo apenas vagamente Vossas Obras e minha mente fica maravilhada. Meramente a olhar para Vós, reduzo-me a nada. E nem mesmo este conhecimento ou esforço é meu, pois é por Vossa Graça que conheço ou me esforço. Logo, vou colocar minha mão na boca, como fez Jó certa vez (cf. Jó 40:4), e tomarei refúgio com os santos, pois sou aturdido.

Bem aventurada Rainha do universo, sabes que não temos nenhuma intimidade com o Deus que de ti nasceste. Mas, pondo nossa confiança em ti, através de tua mediação, nós, teus servos nos prostramos diante do Senhor: pois tu podes livremente aproximar-se DEle já que Ele é teu filho e nosso Deus. Assim também eu, crente indigno que sou, suplico a ti, Mãe Santa, para que me possa ser permitido perceber os dons da graça concedidos a ti e aos outros santos, e entender por fim como podes exibir tantas virtudes. Simplesmente ao dar nascimento ao filho de Deus, tu te sobressais diante de todas as outras Criaturas. Pois Aquele que, como criador de tudo, conhece todas as coisas antes que venham à existência, achou teu ventre digno de ser Sua morada. Ninguém pode te questionar sobre seu mistério, pois elas transcendem a natureza, o pensamento e o intelecto. Justamente nós, que fomos salvos por ti, Virgem pura, te confessamos como Mãe de Deus, exaltando-lhe os coros angélicos. Pois Deus, a quem os homens não podem ver, a quem a fileira dos anjos não ousam olhar, foi por ti tornado Visível aos homens como o Logos feito carne. Glorificando O com as hostes celestes nós proclamamos a ti como bem aventurada! E como devemos chamar-te, tu que és cheia de Graça? Oh Céus, por ti o Sol da Justiça brilhou adiante? Oh Paraíso, estendeste a flor da imortalidade? Virgem, como permaneceste inviolada? Mãe pura, pois tu realizaste em teu abraço sagrado o Deus de tudo? Mãe de Deus, tu és o verdadeiro vinho, pois tiveste o fruto da vida. Nós te rogamos, intercede com tua glória com os apóstolos e todos os santos, para que Deus tenha misericórdia de nossas almas. Pois com verdadeira fé nós confessamos que tu és a Mãe de Deus e nós te bendizemos, sempre bendita. Todas as gerações te proclamam bendita como a única Mãe de Deus, mais honrada do que os querubins e incomparavelmente mais gloriosa que os serafins.
Quem não se admira quando vê, Oh santos mártires, o bom combate que lutaram? Sendo corpóreos venceram o inimigo incorpóreo, bastando-lhes confessar Cristo e se armarem com a Cruz. Apenas com isso revelaram ser capazes de expelir demônios e inimigos de bárbaros poderes. Intercedam sem cessar pela salvação de nossas almas. Como as três crianças na fornalha ardente, vocês suportaram suas provações na esperança de uma recompensa, mas por amor a Deus, como elas declararam: "Mesmo que Deus não nos livrasse, ainda assim não haveria nenhuma razão para nós O negarmos como alguém que não salva" (cf. Daniel 3: 17-18). Eu me maravilho desta extrema humildade, santas crianças, pois mesmo envolvidas em chamas, vocês declararam não saber como não dar graças a Deus. "Não há neste momento nenhum príncipe, profeta, líder ou holocausto", diziam, "... mas porque nós viemos com um coração contrito e espírito humilhado, aceita-nos" (Canção das 3 crianças, versos 15 e 16). Eu me maravilho do poder de Deus que preencheu estas crianças, assim como Elias o profeta; como disse São João Damascos: "Oh chama, tens feito cair o orvalho sobre teus santos" (Canção das 3 crianças, verso 27), "e queimaste com água o sacrifício do Justo" (cf. I Reis 18:38). "Pois fazeis todas as coisas, Oh Cristo, simplesmente apenas por Vossa vontade". Aliás, o que contemplarei em primeiro lugar? O testemunho encontrado nos Evangelhos, ou os Atos dos Apóstolos? As lutas dos mártires, ou a batalha dos santos padres, ou dos santos antigos e recentes, tanto homens quanto mulheres? Suas vidas e ditos, ou seus poderes de interpretação e discernimento? Estou perdido e maravilhado.
Mas eu Vos rogo, senhor Compassivo, não me permita ser condenado por causa da maneira indigna e estéril em que eu contemplo os grandes mistérios que Vós revelastes aos Vossos santos, e através deles a mim, um pecador e Vosso indigno servo. Pois veja, Senhor, Vosso servo coloca-se perante Vós, ocioso em todas as coisas, sem fala, como alguém que jaz morto; e eu não ouso dizer qualquer coisa a mais presunçosamente para vir a contemplar mais tarde. Mas como sempre me caio diante de Vós, chorando das profundezas da minha alma e dizendo, "Mestre e Senhor rio em misericórdia, Senhor Jesus Cristo..." e o resto da oração. (Aqui deve-se meditar na segunda oração e nos salmos, observando a conduta de nossa alma e corpo, para que se desenvolva uma disposição receptiva aos divinos pensamentos. Então você será capaz de com plena consciência entender todos os mistérios e milagres ocultos nas Sagradas Escrituras. Surpreendido neste sentido com os dons de Deus, você virá a ama-Lo e a sofrer por seu amor com alegria, como fizeram todos os santos. Pois as sagradas Escrituras são plenas de coisas maravilhosas, como diz Salomão).
Juntamente a outras maravilhas, eu me admiro do poder de Deus como se manifestou no maná. Pois o maná não preservou a mesma forma até o dia seguinte, mas dissolveu e foi encontrado cheio de vermes (cf. Êxodo 16:20). Isso foi para prevenir aqueles que faltaram com a fé preocupando-se eles mesmos com o dia seguinte. Mas no jarro estava no tabernáculo permaneceu imutável (cf. Êxodo 16: 32-34). Novamente quando cozido com fogo o maná não era queimado; ainda que dissolvido no menor raio de luz do sol, para que o ganancioso não exigisse mais do que o necessário para mantê-lo vivo. Quão maravilhosamente Deus trabalha em todo lugar para a salvação dos homens, como diz o Senhor em relação à divina providência: "Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" (João 5:17). Aquele que medita nisso é exteriormente educado pelas Sagradas Escrituras, e interiormente pela divina providência. Ele começa a ver as coisas em sua verdadeira natureza, como dizem São Gregório de Nissa e São João de Damascos. Ele não é mais enganado pelo aspecto atrativo das coisas deste mundo, tais como beleza física, riqueza, glória transitória e etc; nem é seduzido pelas sombras que eles deixam, como são ainda aqueles sujeitos às paixões.
terça-feira, 30 de abril de 2013
O terceiro estágio da contemplação
Continuação do post anterior.
Páginas 114 a 122
O ícone abaixo é de São Pedro de Damasco (autor destes textos), santo celebrado tanto pela Igreja Católica Romana quanto pela Igreja Ortodoxa. Ele foi preso pelos muçulmanos por pregar contra Maomé. Seus captores o cegaram, torturaram, crucificaram e finalmente o decapitaram. Que o exemplo de São Pedro de Damasco nos ensine a não compactuar com o relativismo que crê ser possível amar a Jesus como Deus e a Maomé como profeta. É necessário fazer uma escolha. Amar os muçulmanos é diferente de abraçar a sua fé, ou fazer conchavos para conciliar o inconciliável. Se o Deus dos Cristãos é o Pai de Jesus, bem como Jesus e o Espírito que procede do Pai e do Filho, então é óbvio que Alá não é o Deus dos cristãos. E, assim sendo, deve ser considerado pelos cristãos como um falso Deus, como foi Baal, Mamon, Moloch, etc. Ou seja, para os cristãos, Alá é um ídolo. Assim como, para os muçulmanos, a Santíssima Trindade não existe.
O terceiro estágio da contemplação
Novamente, o lamento. Ai de mim, que agonia a alma sente quando ela é separada do corpo? Quantas lágrimas lança em seguida, e não há quem se apiede disso. Voltando os olhos aos anjos, ela suplica em vão. Erguendo as mãos para os homens, ela não encontra quem a ajude.
Eu choro e lamento quando penso na morte e vejo a beleza do homem, criado por Deus à sua própria imagem, jazendo na sepultura, feio, abjeto, sua forma física destruída. Que mistério recai sobre nós? Como fomos entregues à corrupção? Como entramos no jugo da morte? Verdadeiramente foi pela vontade de Deus, como está escrito. Aliás, o que farei no momento de minha morte, quando os demônios arrodearem minha alma infeliz, lançando-me acusações dos pecados por mim cometidos, consciente ou inconscientemente, em palavras, atos e pensamentos e exigindo de mim minha defesa? Aliás, ai de mim, mesmo sem qualquer outro pecado, já estou condenado - e certamente por não ter guardado os mandamentos.
Conte-me, minha alma miserável, onde estão suas promessas batismais? O que aconteceu com sua aliança com Cristo e sua renúncia a satan? Onde está sua guarda dos mandamentos de Deus, sua imitação de Cristo pelas virtudes de corpo e alma? É por isso que és chamada Cristã. O que aconteceu à sua profissão da vida monástica? Você deveria culpar a fraqueza física, quando é a fé que lança todos os cuidados sobre o Senhor, a fé pela qual, mesmo que tivesse o tamanho de uma semente de mostarda, seria capaz de mover montanhas (Mateus 17:20)? Cadê o perfeito arrependimento que repeliria toda palavra e ação má? Cadê a contrição de alma e o lamento interior profundo? Onde está a gentileza, a generosidade, a liberdade de coração dos maus pensamentos, o completo autocontrole que refreia cada membro do corpo e cada pensamento e desejo que não é indispensável nem para a salvação da alma, nem para a manutenção do corpo?Onde está a paciência que suporta muitas tribulações para a segurança do Reino dos Céus? Onde está a gratidão por todas as coisas? A oração incessante? A recordação da morte? As lágrimas de aflição por minhas falhas no exercício do amor? Onde está a coragem que suporta sofrimentos terríveis e avança cheia de esperança contra o adversário? Onde está a justiça que dá a cada um o que lhe é devido, a humildade que conhece sua própria fraqueza e ignorância, e a compaixão divina que teria me livrado de todas as artimanhas dos demônios? Onde está o desapego e o amor perfeito, a paz que excede todo intelecto (Filipenses 4:7), por meio da qual eu poderia ser chamado filho de Deus (cf. Mateus 5:9)? Mesmo sem força aquele que deseja pode possuir todas estas coisas simplesmente por meio de sua própria resolução.
O que posso dizer sobre tudo isso? O que posso dizer? Se eu, na minha incerteza, perder o coração por um tempo porque eu tenho falhado completamente em fazer o que eu devia nos limites do meu poder, vou cair mais baixo que o Hades, como diz St. Atanásio, o Grande. Quão miserável sou? O que trouxe para mim mesmo, não só pelo peso dos meus pecados, mas sim pela minha recusa em me arrepender! Pois se como o filho pródigo eu tivesse mesmo me arrependido, meu Pai amado teria me recebido de braços abertos (cf. Lucas 15:11-32). E se eu tivesse sido tão honesto quanto o publicano (cf. Lucas 18:13), condenando-me a mim mesmo e a ninguém mais, eu também teria recebido de Deus perdão de meus pecados, especialmente se eu tivesse chamado por Ele com toda a minha alma como fez o publicano. Ora, eu ainda não me reconheço deste modo. Por causa disso, temo que irei morar no inferno com os demônios, e viverei com muito medo do julgamento futuro, com o rio de fogo, os tronos e os livros abertos (cf. Daniel 7:9-12), anjos correndo à frente, toda a humanidade de pé, todos nus e expostos (cf. Hebreus 4:13), ante o Juiz temível e justo.
Como hei de suportar o exame, o desprazer do temor inspirado pelo juiz imparcial, a reunião de anjos inumeráveis, a retribuição que exige ameaças terríveis, a decisão que não pode ser alterada? Como suportarei o lamento sem cessar e as lágrimas inúteis, a escuridão e a ausência de sono, o fogo inextinguível e muitos tormentos? Como suportar a exclusão do reino e a separação dos santos, a partida dos anjos, a alienação de Deus, o enfraquecimento da alma e da morte eterna, o temor, a dor, a aflição, a vergonha, a tortura de consciência?

Ai de mim, pecador! O que aconteceu comigo? Por que eu deveria me destruir tão erroneamente? Eu ainda tenho tempo para o arrependimento. O Senhor me chamará: hei de procrastinar? Quanto tempo, minha alma, você permanecerá em seus pecados? Pense no julgamento que virá, grite para Cristo seu Deus: prescrute seu coração, eu pequei; antes que Vós me condeneis, tenha misericórdia de mim! Na tua incrível vinda não posso ouvir: "Nunca o conheci" (Mateus 25:12). Pois colocamos nossa esperança em Vós, Nosso Salvador, mesmo que em nossa negligência nós falhemos em guardar os mandamentos. Mas nós Vos rogamos, poupe nossas almas. Ai de mim, Senhor, pois eu Vos tenho entristecido e não percebi; ainda por meio de Vossa Graça eu comecei a perceber, e assim encheu-me a confusão. Minha alma infeliz é sacudida de temor.
Ser-me-á permitido viver ainda por mais tempo, assim como chorar lágrimas amargas e limpar meu corpo e alma impura? Ou, depois de lamentar por um tempo, eu interromperei mais uma vez e endurecerei como sempre? O que eu farei para adquirir uma dor sem cessar de alma? Eu jejuarei e manterei vigília? Sem humildade, isso de nada me servirá. Lerei e cantarei salmos apenas com a boca? Pois minhas paixões têm obscurecido meu intelecto e eu não posso entender o significado do que é dito. Eu cairei prostrado diante de Vós, oh doador de todas as bençãos? Mas eu não tenho confiança. Minha vida é sem esperança; eu destruí minha alma. Senhor, ajude-me e recebe-me como ao publicano; pois como o Filho pródigo eu pequei contra o Céu e contra Ti (cf. Lucas 15:18). Eu pequei como a prostituta que veio a Ti chorando, e de quem está escrito: 'Cheia de desespero em virtude da sua vida, de seus caminhos bem conhecidos, ela chegou a ti trazendo mirra e chorando: "Oh nascido da Virgem, não me jogues fora, prostituta que sou; não desprezes minhas lágrimas. Oh gozo dos anjos, recebe-me em meu arrependimento, oh meu Senhor, e em Tua Grande misericórdia não me rejeite, um pecador". Pois também eu estou em desespero por conta de meus pecados, ainda sou bem conhecido por tua compaixão inefável e o mar sem fim de Vossa misericórdia.
Lança minha alma em desespero neste mar, eu ouso concentrar meu intelecto na Vossa santa rememoração; e, levanto-me e em temor e tremor faço este pedido: que indigno sou de ser contado entre Vossos servos; por graça posso chegar a ter um intelecto apartado de todas as formas, figuras, cores, materialidade; que, como Daniel, quando se prostrou diante de Vosso anjo (cf. Daniel 10:9), eu posso levantar minhas mãos e ajoelhar-me diante de Vós, o Deus único, Criador de tudo, e Vos oferecer primeiro ação de Graças e depois confissão. Neste caminho hei de Vos procurar oh suprema vontade santa, confessando Vossa Graça em todas as bençãos que Vos me concedeis, eu que sou sujo, pó e cinza, e sabendo ser totalmente uma criatura da terra, é apenas pelo intelecto que sou capaz de aproximar-me de Vós.
Então consciente que Vós me olhais, com toda a minha alma, chorarei e direi: Oh Senhor mais misericordioso, dou-Vos graças, glorifico-Vos, canto-Vos hinos, venero-Vos, pois indigno que sou, Vós me encontraste e consideraste-me digno justo nesta hora para dar-Vos Graças e estar atento às maravilhas e graças incontáveis e insondáveis, visíveis e invisíveis, conhecidas e desconhecidas - que Vossa Graça concedeu-me e ainda concede à nossas almas e corpos. Eu confesso Vossas Dádivas, eu não escondo Vossas bençãos, eu proclamo Vossa Misericórdia; eu reconheço Vos, oh Senhor meu Deus, com todo o meu coração, e glorifico Vosso Nome para sempre: "Pois Grande é a Vossa Misericórdia para comigo" Salmo 86:13), e inexprimível é "Vossa indulgência e longanimidade com respeito aos meus muitos pecados e iniquidades, sobre as coisas atrozes e sem Deus que fiz, e ainda faço, e farei no futuro. Delas Vossa Graça salvou-me, se cometidas conscientemente ou inconscientemente, em palavra, ação ou pensamento. Vós conheceis acima de tudo, Oh Senhor, prescrutador dos corações, desde meu nascimento até minha morte; e, abjeto que sou, ouso confessá-las diante de Vós: "Pequei, cometi iniquidades, procedi impiamente (cf. Daniel 9:5) "Fiz o mal à tua vista" (Salmo 51:4) e eu não sou digno de contemplar a altura dos céus.
Ainda, encontrando coragem em Vossa inexprimível compaixão, em Vossa bondade e terna misericórdia que excede nosso entendimento, prostrarei diante de Vós e rogarei a Vós, Senhor: "Tenha Misericórdia de mim, Senhor, pois sou fraco" (Salmo 6:2) pois cometi muitos crimes. Não permitais que eu peque novamente ou me desvie de Vosso reto Caminho, ou injurie e ofenda alguém, mas cheque em mim toda a iniquidade, todo mau hábito, todo impulso estúpido de corpo e alma, de ira e desejo; e ensina-me a agir de acordo com a Vossa Vontade.
Tende misericórdia de meus irmãos e pais espirituais, de todos os monges e padres em todos os lugares, de meus pais, irmãos e irmãs, meus parentes, aqueles que nos serviram e nos servem agora, aqueles que rogam por nós e aqueles que nos pedem nossas orações, aqueles que nos odeiam e aqueles que nos amam, aqueles que me prejudicaram e ofenderam e o farão no futuro, aqueles que ofendi e prejudiquei, e todos que confiam em Vós. Perdoai-nos todo pecado deliberado ou sem intenção. Protege nossas vidas e afaste-nos dos espírito impuros, de toda tentação, de todo pecado e malícia, da presunção e desespero, da falta de fé e da tolice, de se auto elogiar e da covardia, da desilusão e falta de retidão, dos artifícios e armadilhas do demônio. Tua compaixão nos concede o que é bom para nossas almas nesta era e na que virá. Dai repouso aos nossos pais e irmãos espirituais que partiram desta vida antes de nós, e através das orações deles todos tenha misericórdia de meu ser infeliz em minha depravação. Vê quão falível sou, retifica minha conduta em todas as coisas, dirige minha vida e morte nos caminhos da paz, modela-me naquilo que Tu desejas e como Tu desejas, querendo eu ou não. Concede-me apenas que eu não falhe em me encontrar a mim mesmo em Tua mão certeira no dia do julgamento, senhor Jesus Cristo, meu Senhor, mesmo que eu seja o menor dos teus servos a serem salvos.
Dai paz ao Vosso mundo, e tende misericórdia de todos os homens nas formas que vos são mais conhecidas. Considerai-me digno de compartilhar de Vosso corpo puro e Vosso precioso sangue, para a remissão dos pecados, para a comunhão no Espírito Santo, como primícias da vida Eterna em Vós com o Vosso povo eleito, pela intercessão de Vossa mãe puríssima, dos anjos e poderes celestiais e de todos os santos; por vossa ação santa pelos séculos Amém.
Santíssima Senhora, Mãe de Deus, todos os poderes celestiais, santos anjos e arcanjos, e todos os santos, intercede por mim, pecador. (Prece da Hora Média)
Deus, Nosso Senhor, Pai Onipotente, Senhor Jesus Cristo, o Unigênito, e o Espírito Santo, a Divindade, o Poderoso, tende misericórdia de mim, pecador.
Após orar neste sentido você deve imediatamente endereçar seus próprios pensamentos e dizer três vezes: "Oh vêm, deixai-nos venerar e prostrar-nos diante de Deus o Nosso Rei". Então você deve começar a salmodiar, recitando o Trisagion depois de cada subseção do Saltério, e concentrar seu intelecto no interior das palavras que está dizendo. Após o Trisagion diga 'Senhor, tende misericórdia' quarenta vezes; e então faça uma prostração e diga uma vez mais em seu interior, 'Eu pequei, Senhor, perdoai-me'. Pondo-se de pé, você deve levantar suas mãos aos céus e dizer mais uma vez, "Deus, sede misericordioso comigo, pecador". Após dizer isso, você deve dizer uma vez mais, "Oh vêm, deixai-nos venerar..." três vezes, e então outra subseção do Saltério no mesmo sentido.
Quando, porém, a doçura da graça de Deus tocar nosso coração com um sentido profundo de penitência no coração, você deve permitir seu intelecto ser banhado em lágrimas de compunção, mesmo que com isso sua boca pare de recitar os salmos e sua mente se faça cativa do que Santo Isaac, o Sírio, chama de "cativeiro abençoado". Pois agora é hora de colheito, não de semeadura (cf. Eclesiástico 3:2). Logo, você deve persistir em tais pensamentos e colher os frutos na forma de lágrimas piedosas. São João Clímaco diz que se uma palavra particular lhe move à compunção, você deve se ocupar dela (Escada, etapa 28). Toda atividade corporal - aqui me refiro, implica jejum, vigília, salmodia, leitura espiritual, tranquilidade e assim por diante - é dirigida para a purificação do intelecto; mas sem lágrima interior o intelecto não pode ser purificado, e assim ser unido a Deus através da pura oração que transporta-nos além de todo pensamento conceitual, e liberta-nos de toda forma e figura. Tudo o que é bom em atividades corporais tem bom resultado - e o reverso é também verdadeiro. Tudo, porém, necessita discernimento para que seja usado para o bem; sem discernimento nós somos ignorantes da verdadeira natureza das coisas.
Muitos de nós pode se chocar quando nós discordamos do que foi dito e feito pelos santos padres. Por exemplo, a Igreja recebeu através de sua tradição a prática de cantar hinos e troparia; mas São João Clímaco, ao rezar por aqueles que receberam de Deus o dom da tristeza interior, diz que tais pessoas não cantam hinos entre si. Novamente, quando fala daqueles em um estado de pura oração, Santo Isaac diz que frequentemente acontece que uma pessoa concentrada em seu intelecto durante a oração, como o profeta Daniel (cf. Daniel 10:9), cai de joelhos, estende as mãos e mira fixamente na Cruz de Cristo; seus pensamentos são alterados e seus lábios se tornam fracos por causa dos novos pensamentos que nascem espontaneamente em seu intelecto. Muitos dos santos padres escreveram coisas similares sobre tais pessoas, cujo intelectos em estados arrebatados não apenas passam além dos salmos e hinos, como diz Evágrio, tornam-se alheios ao próprio intelecto. Ainda, por causa da fraqueza de nosso intelecto, a Igreja está certa em recomendar a entonação de hinos e a troparia, pois por estes meios aqueles de nós a quem falta conhecimento espiritual podem de uma maneira ou e outra rogar a Deus pela doçura da melodia, enquanto aqueles que possuem tal conhecimento e assim entendem as palavras são conduzidos a um estado de compunção.
Assim, como põe São João Damasco, somos levados como se de uma escada para o topo dos bons pensamentos. O mais habitual desses pensamentos unido à saudade de Deus nos faz entender e adorar o pai em espírito e verdade (João 4:24), como disse o Senhor. São Paulo também indica isto quando diz: "Eu quero falar cinco palavras cujo significado eu entenda do que mil palavras em língua estrangeira" (1 Cor. 14:19); e novamente: "Quero que os homens orem em todo lugar, levantando as mãos sem ira nem contenda" (1 Tim. 2:8). Deste modo, hinos e troparia são remédios para nossas fraquezas, enquanto a experiência de arrebatamento marcam a perfeição do intelecto. Esta é a solução para tais questões. Pois "todas as coisas são boas no devido tempo" (cf. Eclesiástico 39: 34); e, como diz Salomão "Para cada coisa há o tempo certo" (Eclesiástico 3:1). Mas para aqueles ignorantes de seu próprio tempo, tudo parecerá discordante e inoportuno.
Quando, uma vez atingido o nível dos bons pensamentos, deve-se tomar extremo cuidado para manter estes pontos em mente, a fim de que a presunção ou negligência não nos privem da Graça de Deus, como diz Santo Isaac. Quando os pensamentos dados por Deus crescem na alma do homem e o conduzem para maior humildade e compunção, ele deve sempre dar graças, reconhecendo que apenas pela Graça de Deus pode conhecer tais coisas e lembrando-se sempre como indigno delas. Se bons pensamentos cessam em sua mente e ela é mais uma vez obscurecida, perdendo sua admiração e seu sentimento de tristeza interior, ele precisa afligir-se muito e humilhar-se em palavras e atos; pois a graça já o abandonou, e ao perceber sua fraqueza, ele pode adquiri humildade e tentar emedar a sua vida, como diz São Basílio, o grande. Pois se não tivesse negligenciado a tristeza interior que é tão cara a Deus não lhe teriam faltado lágrimas quando as desejasse. E esta é a razão de porque devemos ser conscientes de nossa própria fraqueza e do poder da Graça de Deus, e nem devemos perder a esperança se algo nos acontece, nem ser encorajados a pensar que somos mais do que somos. De preferência nós devemos sempre esperar em Deus com humildade. Isto se aplica particularmente aqueles que em pensamento e ação estão buscando recuperar o dom das lágrimas: eles já foram agraciados com este dom providencial, mas eles falharam em preservá-lo por causa da negligência do passado, presente ou futuro ou por causa da auto exaltação, conforme explicamos.
Se alguém deliberadamente renunciou a estes bens da Graça - tristeza interior, lágrimas e pensamentos radiantes - o que ele merece senão profunda aflição? Pois que maior loucura há do que aquela do homem que, depois de partir do que é contrário à natureza e atingir pela graça um estado sobrenatural - aqui me refiro às lágrimas do entendimento e amor - então reverte tudo por meio de algum ato trivial ou pensamento estranho e por sua própria obstinação chega à ignorância de uma besta, como um cachorro ao seu próprio vômito? Se tal homem decide uma vez mais devotar a si mesmo a Deus, lendo as Divinas Escrituras com atenção e lembrança da morte, e mantendo seu intelecto, o quanto possa, livre de vãos pensamentos durante a oração, ele pode recuperar o que havia perdido. E ele pode fazer isso tudo ainda mais literalmente se ele nunca se zangar com alguém, sofrendo, no entanto, nas mãos dos outros, se ele nunca permite que alguém se zangue com ele, mas faz tudo o que pode por ações e palavras para remediar as coisas. Quando isso acontece seu intelecto exulta ainda mais, sendo lançado da turbulência da ira; e ele aprende pela prática a nunca negligenciar sua própria alma, temendo ser mais uma vez abandonado. É pelo medo que ele se mantém longe da queda, e é abençoado sempre com lágrimas de arrependimento e com a tristeza interior até que ele obtém as lágrimas amor e gozo, por meio da qual pela Graça de Cristo seus pensamentos são definidos em paz.
Ainda que estejamos apaixonados e obstinados devemos sempre meditar nas palavras de tristeza, e devemos nos examinar diariamente, tanto antes de nossa regra de oração, quanto durante e depois. Nós devemos fazer isto se nós ainda estamos lutando, a despeito de nossa fraqueza, a nos devotar completamente a Deus e dar as costas a tudo o mais, como coloca São Isaac; devemos fazer isso mesmo quando deixamos tudo e permanecemos concentrados, com nossos olhos sem descanso e nossa mente atenta, como diz São João Clímaco. Considere que progresso você está fazendo nestas coisas, de modo que sua alma possa ser castigada e começar a experimentar o dom das lágrimas, como diz São Doroteu.
Estes são os três primeiro estágios da contemplação, por meio dos quais estamos habilitados a avançar em outros estágios.
Páginas 114 a 122
O ícone abaixo é de São Pedro de Damasco (autor destes textos), santo celebrado tanto pela Igreja Católica Romana quanto pela Igreja Ortodoxa. Ele foi preso pelos muçulmanos por pregar contra Maomé. Seus captores o cegaram, torturaram, crucificaram e finalmente o decapitaram. Que o exemplo de São Pedro de Damasco nos ensine a não compactuar com o relativismo que crê ser possível amar a Jesus como Deus e a Maomé como profeta. É necessário fazer uma escolha. Amar os muçulmanos é diferente de abraçar a sua fé, ou fazer conchavos para conciliar o inconciliável. Se o Deus dos Cristãos é o Pai de Jesus, bem como Jesus e o Espírito que procede do Pai e do Filho, então é óbvio que Alá não é o Deus dos cristãos. E, assim sendo, deve ser considerado pelos cristãos como um falso Deus, como foi Baal, Mamon, Moloch, etc. Ou seja, para os cristãos, Alá é um ídolo. Assim como, para os muçulmanos, a Santíssima Trindade não existe.
O terceiro estágio da contemplação
Novamente, o lamento. Ai de mim, que agonia a alma sente quando ela é separada do corpo? Quantas lágrimas lança em seguida, e não há quem se apiede disso. Voltando os olhos aos anjos, ela suplica em vão. Erguendo as mãos para os homens, ela não encontra quem a ajude.
Eu choro e lamento quando penso na morte e vejo a beleza do homem, criado por Deus à sua própria imagem, jazendo na sepultura, feio, abjeto, sua forma física destruída. Que mistério recai sobre nós? Como fomos entregues à corrupção? Como entramos no jugo da morte? Verdadeiramente foi pela vontade de Deus, como está escrito. Aliás, o que farei no momento de minha morte, quando os demônios arrodearem minha alma infeliz, lançando-me acusações dos pecados por mim cometidos, consciente ou inconscientemente, em palavras, atos e pensamentos e exigindo de mim minha defesa? Aliás, ai de mim, mesmo sem qualquer outro pecado, já estou condenado - e certamente por não ter guardado os mandamentos.
Conte-me, minha alma miserável, onde estão suas promessas batismais? O que aconteceu com sua aliança com Cristo e sua renúncia a satan? Onde está sua guarda dos mandamentos de Deus, sua imitação de Cristo pelas virtudes de corpo e alma? É por isso que és chamada Cristã. O que aconteceu à sua profissão da vida monástica? Você deveria culpar a fraqueza física, quando é a fé que lança todos os cuidados sobre o Senhor, a fé pela qual, mesmo que tivesse o tamanho de uma semente de mostarda, seria capaz de mover montanhas (Mateus 17:20)? Cadê o perfeito arrependimento que repeliria toda palavra e ação má? Cadê a contrição de alma e o lamento interior profundo? Onde está a gentileza, a generosidade, a liberdade de coração dos maus pensamentos, o completo autocontrole que refreia cada membro do corpo e cada pensamento e desejo que não é indispensável nem para a salvação da alma, nem para a manutenção do corpo?Onde está a paciência que suporta muitas tribulações para a segurança do Reino dos Céus? Onde está a gratidão por todas as coisas? A oração incessante? A recordação da morte? As lágrimas de aflição por minhas falhas no exercício do amor? Onde está a coragem que suporta sofrimentos terríveis e avança cheia de esperança contra o adversário? Onde está a justiça que dá a cada um o que lhe é devido, a humildade que conhece sua própria fraqueza e ignorância, e a compaixão divina que teria me livrado de todas as artimanhas dos demônios? Onde está o desapego e o amor perfeito, a paz que excede todo intelecto (Filipenses 4:7), por meio da qual eu poderia ser chamado filho de Deus (cf. Mateus 5:9)? Mesmo sem força aquele que deseja pode possuir todas estas coisas simplesmente por meio de sua própria resolução.
O que posso dizer sobre tudo isso? O que posso dizer? Se eu, na minha incerteza, perder o coração por um tempo porque eu tenho falhado completamente em fazer o que eu devia nos limites do meu poder, vou cair mais baixo que o Hades, como diz St. Atanásio, o Grande. Quão miserável sou? O que trouxe para mim mesmo, não só pelo peso dos meus pecados, mas sim pela minha recusa em me arrepender! Pois se como o filho pródigo eu tivesse mesmo me arrependido, meu Pai amado teria me recebido de braços abertos (cf. Lucas 15:11-32). E se eu tivesse sido tão honesto quanto o publicano (cf. Lucas 18:13), condenando-me a mim mesmo e a ninguém mais, eu também teria recebido de Deus perdão de meus pecados, especialmente se eu tivesse chamado por Ele com toda a minha alma como fez o publicano. Ora, eu ainda não me reconheço deste modo. Por causa disso, temo que irei morar no inferno com os demônios, e viverei com muito medo do julgamento futuro, com o rio de fogo, os tronos e os livros abertos (cf. Daniel 7:9-12), anjos correndo à frente, toda a humanidade de pé, todos nus e expostos (cf. Hebreus 4:13), ante o Juiz temível e justo.
Como hei de suportar o exame, o desprazer do temor inspirado pelo juiz imparcial, a reunião de anjos inumeráveis, a retribuição que exige ameaças terríveis, a decisão que não pode ser alterada? Como suportarei o lamento sem cessar e as lágrimas inúteis, a escuridão e a ausência de sono, o fogo inextinguível e muitos tormentos? Como suportar a exclusão do reino e a separação dos santos, a partida dos anjos, a alienação de Deus, o enfraquecimento da alma e da morte eterna, o temor, a dor, a aflição, a vergonha, a tortura de consciência?
Ai de mim, pecador! O que aconteceu comigo? Por que eu deveria me destruir tão erroneamente? Eu ainda tenho tempo para o arrependimento. O Senhor me chamará: hei de procrastinar? Quanto tempo, minha alma, você permanecerá em seus pecados? Pense no julgamento que virá, grite para Cristo seu Deus: prescrute seu coração, eu pequei; antes que Vós me condeneis, tenha misericórdia de mim! Na tua incrível vinda não posso ouvir: "Nunca o conheci" (Mateus 25:12). Pois colocamos nossa esperança em Vós, Nosso Salvador, mesmo que em nossa negligência nós falhemos em guardar os mandamentos. Mas nós Vos rogamos, poupe nossas almas. Ai de mim, Senhor, pois eu Vos tenho entristecido e não percebi; ainda por meio de Vossa Graça eu comecei a perceber, e assim encheu-me a confusão. Minha alma infeliz é sacudida de temor.
Ser-me-á permitido viver ainda por mais tempo, assim como chorar lágrimas amargas e limpar meu corpo e alma impura? Ou, depois de lamentar por um tempo, eu interromperei mais uma vez e endurecerei como sempre? O que eu farei para adquirir uma dor sem cessar de alma? Eu jejuarei e manterei vigília? Sem humildade, isso de nada me servirá. Lerei e cantarei salmos apenas com a boca? Pois minhas paixões têm obscurecido meu intelecto e eu não posso entender o significado do que é dito. Eu cairei prostrado diante de Vós, oh doador de todas as bençãos? Mas eu não tenho confiança. Minha vida é sem esperança; eu destruí minha alma. Senhor, ajude-me e recebe-me como ao publicano; pois como o Filho pródigo eu pequei contra o Céu e contra Ti (cf. Lucas 15:18). Eu pequei como a prostituta que veio a Ti chorando, e de quem está escrito: 'Cheia de desespero em virtude da sua vida, de seus caminhos bem conhecidos, ela chegou a ti trazendo mirra e chorando: "Oh nascido da Virgem, não me jogues fora, prostituta que sou; não desprezes minhas lágrimas. Oh gozo dos anjos, recebe-me em meu arrependimento, oh meu Senhor, e em Tua Grande misericórdia não me rejeite, um pecador". Pois também eu estou em desespero por conta de meus pecados, ainda sou bem conhecido por tua compaixão inefável e o mar sem fim de Vossa misericórdia.
Lança minha alma em desespero neste mar, eu ouso concentrar meu intelecto na Vossa santa rememoração; e, levanto-me e em temor e tremor faço este pedido: que indigno sou de ser contado entre Vossos servos; por graça posso chegar a ter um intelecto apartado de todas as formas, figuras, cores, materialidade; que, como Daniel, quando se prostrou diante de Vosso anjo (cf. Daniel 10:9), eu posso levantar minhas mãos e ajoelhar-me diante de Vós, o Deus único, Criador de tudo, e Vos oferecer primeiro ação de Graças e depois confissão. Neste caminho hei de Vos procurar oh suprema vontade santa, confessando Vossa Graça em todas as bençãos que Vos me concedeis, eu que sou sujo, pó e cinza, e sabendo ser totalmente uma criatura da terra, é apenas pelo intelecto que sou capaz de aproximar-me de Vós.
Então consciente que Vós me olhais, com toda a minha alma, chorarei e direi: Oh Senhor mais misericordioso, dou-Vos graças, glorifico-Vos, canto-Vos hinos, venero-Vos, pois indigno que sou, Vós me encontraste e consideraste-me digno justo nesta hora para dar-Vos Graças e estar atento às maravilhas e graças incontáveis e insondáveis, visíveis e invisíveis, conhecidas e desconhecidas - que Vossa Graça concedeu-me e ainda concede à nossas almas e corpos. Eu confesso Vossas Dádivas, eu não escondo Vossas bençãos, eu proclamo Vossa Misericórdia; eu reconheço Vos, oh Senhor meu Deus, com todo o meu coração, e glorifico Vosso Nome para sempre: "Pois Grande é a Vossa Misericórdia para comigo" Salmo 86:13), e inexprimível é "Vossa indulgência e longanimidade com respeito aos meus muitos pecados e iniquidades, sobre as coisas atrozes e sem Deus que fiz, e ainda faço, e farei no futuro. Delas Vossa Graça salvou-me, se cometidas conscientemente ou inconscientemente, em palavra, ação ou pensamento. Vós conheceis acima de tudo, Oh Senhor, prescrutador dos corações, desde meu nascimento até minha morte; e, abjeto que sou, ouso confessá-las diante de Vós: "Pequei, cometi iniquidades, procedi impiamente (cf. Daniel 9:5) "Fiz o mal à tua vista" (Salmo 51:4) e eu não sou digno de contemplar a altura dos céus.
Ainda, encontrando coragem em Vossa inexprimível compaixão, em Vossa bondade e terna misericórdia que excede nosso entendimento, prostrarei diante de Vós e rogarei a Vós, Senhor: "Tenha Misericórdia de mim, Senhor, pois sou fraco" (Salmo 6:2) pois cometi muitos crimes. Não permitais que eu peque novamente ou me desvie de Vosso reto Caminho, ou injurie e ofenda alguém, mas cheque em mim toda a iniquidade, todo mau hábito, todo impulso estúpido de corpo e alma, de ira e desejo; e ensina-me a agir de acordo com a Vossa Vontade.
Tende misericórdia de meus irmãos e pais espirituais, de todos os monges e padres em todos os lugares, de meus pais, irmãos e irmãs, meus parentes, aqueles que nos serviram e nos servem agora, aqueles que rogam por nós e aqueles que nos pedem nossas orações, aqueles que nos odeiam e aqueles que nos amam, aqueles que me prejudicaram e ofenderam e o farão no futuro, aqueles que ofendi e prejudiquei, e todos que confiam em Vós. Perdoai-nos todo pecado deliberado ou sem intenção. Protege nossas vidas e afaste-nos dos espírito impuros, de toda tentação, de todo pecado e malícia, da presunção e desespero, da falta de fé e da tolice, de se auto elogiar e da covardia, da desilusão e falta de retidão, dos artifícios e armadilhas do demônio. Tua compaixão nos concede o que é bom para nossas almas nesta era e na que virá. Dai repouso aos nossos pais e irmãos espirituais que partiram desta vida antes de nós, e através das orações deles todos tenha misericórdia de meu ser infeliz em minha depravação. Vê quão falível sou, retifica minha conduta em todas as coisas, dirige minha vida e morte nos caminhos da paz, modela-me naquilo que Tu desejas e como Tu desejas, querendo eu ou não. Concede-me apenas que eu não falhe em me encontrar a mim mesmo em Tua mão certeira no dia do julgamento, senhor Jesus Cristo, meu Senhor, mesmo que eu seja o menor dos teus servos a serem salvos.
Dai paz ao Vosso mundo, e tende misericórdia de todos os homens nas formas que vos são mais conhecidas. Considerai-me digno de compartilhar de Vosso corpo puro e Vosso precioso sangue, para a remissão dos pecados, para a comunhão no Espírito Santo, como primícias da vida Eterna em Vós com o Vosso povo eleito, pela intercessão de Vossa mãe puríssima, dos anjos e poderes celestiais e de todos os santos; por vossa ação santa pelos séculos Amém.

Deus, Nosso Senhor, Pai Onipotente, Senhor Jesus Cristo, o Unigênito, e o Espírito Santo, a Divindade, o Poderoso, tende misericórdia de mim, pecador.
Após orar neste sentido você deve imediatamente endereçar seus próprios pensamentos e dizer três vezes: "Oh vêm, deixai-nos venerar e prostrar-nos diante de Deus o Nosso Rei". Então você deve começar a salmodiar, recitando o Trisagion depois de cada subseção do Saltério, e concentrar seu intelecto no interior das palavras que está dizendo. Após o Trisagion diga 'Senhor, tende misericórdia' quarenta vezes; e então faça uma prostração e diga uma vez mais em seu interior, 'Eu pequei, Senhor, perdoai-me'. Pondo-se de pé, você deve levantar suas mãos aos céus e dizer mais uma vez, "Deus, sede misericordioso comigo, pecador". Após dizer isso, você deve dizer uma vez mais, "Oh vêm, deixai-nos venerar..." três vezes, e então outra subseção do Saltério no mesmo sentido.
Quando, porém, a doçura da graça de Deus tocar nosso coração com um sentido profundo de penitência no coração, você deve permitir seu intelecto ser banhado em lágrimas de compunção, mesmo que com isso sua boca pare de recitar os salmos e sua mente se faça cativa do que Santo Isaac, o Sírio, chama de "cativeiro abençoado". Pois agora é hora de colheito, não de semeadura (cf. Eclesiástico 3:2). Logo, você deve persistir em tais pensamentos e colher os frutos na forma de lágrimas piedosas. São João Clímaco diz que se uma palavra particular lhe move à compunção, você deve se ocupar dela (Escada, etapa 28). Toda atividade corporal - aqui me refiro, implica jejum, vigília, salmodia, leitura espiritual, tranquilidade e assim por diante - é dirigida para a purificação do intelecto; mas sem lágrima interior o intelecto não pode ser purificado, e assim ser unido a Deus através da pura oração que transporta-nos além de todo pensamento conceitual, e liberta-nos de toda forma e figura. Tudo o que é bom em atividades corporais tem bom resultado - e o reverso é também verdadeiro. Tudo, porém, necessita discernimento para que seja usado para o bem; sem discernimento nós somos ignorantes da verdadeira natureza das coisas.
Muitos de nós pode se chocar quando nós discordamos do que foi dito e feito pelos santos padres. Por exemplo, a Igreja recebeu através de sua tradição a prática de cantar hinos e troparia; mas São João Clímaco, ao rezar por aqueles que receberam de Deus o dom da tristeza interior, diz que tais pessoas não cantam hinos entre si. Novamente, quando fala daqueles em um estado de pura oração, Santo Isaac diz que frequentemente acontece que uma pessoa concentrada em seu intelecto durante a oração, como o profeta Daniel (cf. Daniel 10:9), cai de joelhos, estende as mãos e mira fixamente na Cruz de Cristo; seus pensamentos são alterados e seus lábios se tornam fracos por causa dos novos pensamentos que nascem espontaneamente em seu intelecto. Muitos dos santos padres escreveram coisas similares sobre tais pessoas, cujo intelectos em estados arrebatados não apenas passam além dos salmos e hinos, como diz Evágrio, tornam-se alheios ao próprio intelecto. Ainda, por causa da fraqueza de nosso intelecto, a Igreja está certa em recomendar a entonação de hinos e a troparia, pois por estes meios aqueles de nós a quem falta conhecimento espiritual podem de uma maneira ou e outra rogar a Deus pela doçura da melodia, enquanto aqueles que possuem tal conhecimento e assim entendem as palavras são conduzidos a um estado de compunção.
Assim, como põe São João Damasco, somos levados como se de uma escada para o topo dos bons pensamentos. O mais habitual desses pensamentos unido à saudade de Deus nos faz entender e adorar o pai em espírito e verdade (João 4:24), como disse o Senhor. São Paulo também indica isto quando diz: "Eu quero falar cinco palavras cujo significado eu entenda do que mil palavras em língua estrangeira" (1 Cor. 14:19); e novamente: "Quero que os homens orem em todo lugar, levantando as mãos sem ira nem contenda" (1 Tim. 2:8). Deste modo, hinos e troparia são remédios para nossas fraquezas, enquanto a experiência de arrebatamento marcam a perfeição do intelecto. Esta é a solução para tais questões. Pois "todas as coisas são boas no devido tempo" (cf. Eclesiástico 39: 34); e, como diz Salomão "Para cada coisa há o tempo certo" (Eclesiástico 3:1). Mas para aqueles ignorantes de seu próprio tempo, tudo parecerá discordante e inoportuno.
Quando, uma vez atingido o nível dos bons pensamentos, deve-se tomar extremo cuidado para manter estes pontos em mente, a fim de que a presunção ou negligência não nos privem da Graça de Deus, como diz Santo Isaac. Quando os pensamentos dados por Deus crescem na alma do homem e o conduzem para maior humildade e compunção, ele deve sempre dar graças, reconhecendo que apenas pela Graça de Deus pode conhecer tais coisas e lembrando-se sempre como indigno delas. Se bons pensamentos cessam em sua mente e ela é mais uma vez obscurecida, perdendo sua admiração e seu sentimento de tristeza interior, ele precisa afligir-se muito e humilhar-se em palavras e atos; pois a graça já o abandonou, e ao perceber sua fraqueza, ele pode adquiri humildade e tentar emedar a sua vida, como diz São Basílio, o grande. Pois se não tivesse negligenciado a tristeza interior que é tão cara a Deus não lhe teriam faltado lágrimas quando as desejasse. E esta é a razão de porque devemos ser conscientes de nossa própria fraqueza e do poder da Graça de Deus, e nem devemos perder a esperança se algo nos acontece, nem ser encorajados a pensar que somos mais do que somos. De preferência nós devemos sempre esperar em Deus com humildade. Isto se aplica particularmente aqueles que em pensamento e ação estão buscando recuperar o dom das lágrimas: eles já foram agraciados com este dom providencial, mas eles falharam em preservá-lo por causa da negligência do passado, presente ou futuro ou por causa da auto exaltação, conforme explicamos.
Se alguém deliberadamente renunciou a estes bens da Graça - tristeza interior, lágrimas e pensamentos radiantes - o que ele merece senão profunda aflição? Pois que maior loucura há do que aquela do homem que, depois de partir do que é contrário à natureza e atingir pela graça um estado sobrenatural - aqui me refiro às lágrimas do entendimento e amor - então reverte tudo por meio de algum ato trivial ou pensamento estranho e por sua própria obstinação chega à ignorância de uma besta, como um cachorro ao seu próprio vômito? Se tal homem decide uma vez mais devotar a si mesmo a Deus, lendo as Divinas Escrituras com atenção e lembrança da morte, e mantendo seu intelecto, o quanto possa, livre de vãos pensamentos durante a oração, ele pode recuperar o que havia perdido. E ele pode fazer isso tudo ainda mais literalmente se ele nunca se zangar com alguém, sofrendo, no entanto, nas mãos dos outros, se ele nunca permite que alguém se zangue com ele, mas faz tudo o que pode por ações e palavras para remediar as coisas. Quando isso acontece seu intelecto exulta ainda mais, sendo lançado da turbulência da ira; e ele aprende pela prática a nunca negligenciar sua própria alma, temendo ser mais uma vez abandonado. É pelo medo que ele se mantém longe da queda, e é abençoado sempre com lágrimas de arrependimento e com a tristeza interior até que ele obtém as lágrimas amor e gozo, por meio da qual pela Graça de Cristo seus pensamentos são definidos em paz.
Ainda que estejamos apaixonados e obstinados devemos sempre meditar nas palavras de tristeza, e devemos nos examinar diariamente, tanto antes de nossa regra de oração, quanto durante e depois. Nós devemos fazer isto se nós ainda estamos lutando, a despeito de nossa fraqueza, a nos devotar completamente a Deus e dar as costas a tudo o mais, como coloca São Isaac; devemos fazer isso mesmo quando deixamos tudo e permanecemos concentrados, com nossos olhos sem descanso e nossa mente atenta, como diz São João Clímaco. Considere que progresso você está fazendo nestas coisas, de modo que sua alma possa ser castigada e começar a experimentar o dom das lágrimas, como diz São Doroteu.
Estes são os três primeiro estágios da contemplação, por meio dos quais estamos habilitados a avançar em outros estágios.
O segundo estágio da contemplação
continuação do post anterior.
Páginas 112 a 114
Ai, ai de mim, infeliz que sou! O que posso fazer? Eu que tenho pecado enormemente. Muitas bençãos me foram concedidas, e eu estou muito fraco. São muitas as tentações: a preguiça me oprime, o esquecimento me abate de modo a não me deixar ver a mim mesmo e meus muitos crimes. Ignorância é mal; transgressão da consciência é ainda pior; virtude é difícil de alcançar, já que as tentações são muitas; os demônios são astutos e sutis; pecar é fácil; a morte é chegada; o acerto de contas é amargo. Ai de mim, o que eu farei? Como fugirei de mim? Pois eu sou a causa de minha própria destruição. Eu fui honrado com livre vontade e nada faço forçadamente. Eu pequei e o faço constantemente, e eu sou indiferente às coisas boas, ainda que ninguém me constranja a isso. A quem posso culpar? Deus, que é bom e cheio de compaixão, que sempre espera que nos voltemos a Ele com arrependimento? Os anjos, que nos amam e protegem?Os homens que também desejam meu progresso? Os demônios? Eles não podem constranger quem quer que seja quando tal pessoa, por conta de sua negligência ou desespero, escolheu destruir-se. A quem devo culpar? Certamente a mim mesmo, não?
Começo a ver minha alma sendo destruída, e ainda eu não faço nenhum esforço para embarcar em uma vida divina. Por que, oh minha alma, sois tão indiferente acerca de si mesma? Por que, quando peca, não te envergonhas diante de Deus e dos anjos do mesmo modo que o ficas diante dos homens? Ai, ai de mim, que não sinto vergonha diante de meu Criador como sinto diante dos homens. Diante dos homens não ouso pecar, mas me esforço ao máximo para parecer estar agindo corretamente; mas diante de Deus me inundam maus pensamentos que frequentemente não me envergonham falar deles! Quanta insanidade! Ainda que peque não temo o Senhor que me assiste, e ainda não posso comentar tal ato a um simples homem para não lhe dar ensejo de corrigir-me. Ai de mim, pois eu conheço a punição e ainda assim não quero me arrepender. Eu amo o Reino dos Céus e ainda não adquiri virtude. Eu creio em Deus, mas constantemente transgrido seus mandamentos. Eu odeio o mal, mas não paro de colaborar com ele. Se rezo, logo perco o interesse e torno-me insensível. Se jejuo, torno-me orgulhoso, e causo-me ainda maior dano. Se mantenho vigília, presumo ter alcançado algo, e assim não gozo de nenhum proveito. Se leio, faço uma destas duas coisas em minha obstinação: ou leio para proveito de um saber profano e cheio de autoestima, e assim torno-me ainda mais ignorante; ou, pela leitura, não surtindo efeito no espírito tudo o que li, faz-me ainda crescer a culpa. Se, pela Graça de Deus acontece d'eu parar de pecar em atos exteriores, eu não paro de pecar continuamente no que eu digo. E, se pela Graça de Deus devo proteger-me também disso, eu continuo a provocar a sua ira pelos meus maus pensamentos. Ai de mim, o que eu posso fazer? Onde quer que eu vá deparo-me com o pecado. Em qualquer canto há demônios. O desespero é o pior de tudo. Eu provoquei a Deus, eu entristeci seus anjos, eu frequentemente injuriei e ofendi os homens.
Eu gostaria, Senhor, de apagar a recordação de meus pecados pela lágrimas, e mediante o arrependimento viver o resto de minha existência de acordo com Tua vontade. Mas o inimigo engana-me e batalha com minha alma. Senhor, diante desse perigo eu perecerei completamente, salva-me.
Eu pequei contra Ti, salvador, como o filho pródigo; recebe-me, Pai, em meu arrependimento e tenha misericórdia de mim, oh Senhor!
Eu choro a Ti, oh Cristo meu Salvador, com a voz do publicano: sede doador de graças para comigo, como foste para com ele, e tenha misericórdia de mim, Oh Deus!
O que acontecerá nos últimos dias? O que virá depois? Quão infeliz sou! "Quem dará água à minha cabeça, e quem verterá meus olhos em fonte de lágrimas?" (Jeremias 9:1 ; Septuaginta). Quem poderá chorar por mim, tanto quanto mereço? Eu mesmo, não o posso. venham, montanhas, cobrir minha abjeção. O que tenho a dizer? Quantas bençãos tem Deus me concedido, bençãos que apenas Ele conhece, e quantas coisas terríveis em ato, palavra e pensamento eu fiz em minha ingratidão, sempre provocando Meu Benfeitor. E quanto mais longânimo Ele é, mais eu o desdenho, tornando-se mais duro meu coração do que pedras sem vida. Eu não me desespero, mas reconheço Sua grande compaixão.
Eu não tenho arrependimento, nem lágrimas. Por isso suplico a Ti, Senhor, para que eu me converta antes que eu morra e concede-me o dom do arrependimento, para que eu seja poupado do justo castigo.
Oh Senhor meu Deus, não me abandoneis, ainda que eu seja nada diante de Ti, ainda que eu seja completamente pecador. Como poderei tornar-me consciente de meus muitos pecados? Pois a menos que eu seja consciente, severa é a minha condenação. Pois Tu criaste céus e terra, e os quatro elementos e tudo o que é formado deles, como São Gregório, o Teólogo, diz. Eu manterei silêncio quanto ao restante, pois eu sou mui indigno e tenho muitos crimes, para dizer qualquer coisa. Quem, mesmo que tenha intelecto de anjo, poderia compreender todas as bençãos incontáveis, que me foram dadas? E por causa de minha obstinação em não mudar eu os perderei todos.
Pela meditação neste caminho, um homem gradualmente avança ao terceiro estágio da meditação.
Páginas 112 a 114
Ai, ai de mim, infeliz que sou! O que posso fazer? Eu que tenho pecado enormemente. Muitas bençãos me foram concedidas, e eu estou muito fraco. São muitas as tentações: a preguiça me oprime, o esquecimento me abate de modo a não me deixar ver a mim mesmo e meus muitos crimes. Ignorância é mal; transgressão da consciência é ainda pior; virtude é difícil de alcançar, já que as tentações são muitas; os demônios são astutos e sutis; pecar é fácil; a morte é chegada; o acerto de contas é amargo. Ai de mim, o que eu farei? Como fugirei de mim? Pois eu sou a causa de minha própria destruição. Eu fui honrado com livre vontade e nada faço forçadamente. Eu pequei e o faço constantemente, e eu sou indiferente às coisas boas, ainda que ninguém me constranja a isso. A quem posso culpar? Deus, que é bom e cheio de compaixão, que sempre espera que nos voltemos a Ele com arrependimento? Os anjos, que nos amam e protegem?Os homens que também desejam meu progresso? Os demônios? Eles não podem constranger quem quer que seja quando tal pessoa, por conta de sua negligência ou desespero, escolheu destruir-se. A quem devo culpar? Certamente a mim mesmo, não?
Começo a ver minha alma sendo destruída, e ainda eu não faço nenhum esforço para embarcar em uma vida divina. Por que, oh minha alma, sois tão indiferente acerca de si mesma? Por que, quando peca, não te envergonhas diante de Deus e dos anjos do mesmo modo que o ficas diante dos homens? Ai, ai de mim, que não sinto vergonha diante de meu Criador como sinto diante dos homens. Diante dos homens não ouso pecar, mas me esforço ao máximo para parecer estar agindo corretamente; mas diante de Deus me inundam maus pensamentos que frequentemente não me envergonham falar deles! Quanta insanidade! Ainda que peque não temo o Senhor que me assiste, e ainda não posso comentar tal ato a um simples homem para não lhe dar ensejo de corrigir-me. Ai de mim, pois eu conheço a punição e ainda assim não quero me arrepender. Eu amo o Reino dos Céus e ainda não adquiri virtude. Eu creio em Deus, mas constantemente transgrido seus mandamentos. Eu odeio o mal, mas não paro de colaborar com ele. Se rezo, logo perco o interesse e torno-me insensível. Se jejuo, torno-me orgulhoso, e causo-me ainda maior dano. Se mantenho vigília, presumo ter alcançado algo, e assim não gozo de nenhum proveito. Se leio, faço uma destas duas coisas em minha obstinação: ou leio para proveito de um saber profano e cheio de autoestima, e assim torno-me ainda mais ignorante; ou, pela leitura, não surtindo efeito no espírito tudo o que li, faz-me ainda crescer a culpa. Se, pela Graça de Deus acontece d'eu parar de pecar em atos exteriores, eu não paro de pecar continuamente no que eu digo. E, se pela Graça de Deus devo proteger-me também disso, eu continuo a provocar a sua ira pelos meus maus pensamentos. Ai de mim, o que eu posso fazer? Onde quer que eu vá deparo-me com o pecado. Em qualquer canto há demônios. O desespero é o pior de tudo. Eu provoquei a Deus, eu entristeci seus anjos, eu frequentemente injuriei e ofendi os homens.
Eu gostaria, Senhor, de apagar a recordação de meus pecados pela lágrimas, e mediante o arrependimento viver o resto de minha existência de acordo com Tua vontade. Mas o inimigo engana-me e batalha com minha alma. Senhor, diante desse perigo eu perecerei completamente, salva-me.
Eu pequei contra Ti, salvador, como o filho pródigo; recebe-me, Pai, em meu arrependimento e tenha misericórdia de mim, oh Senhor!
Eu choro a Ti, oh Cristo meu Salvador, com a voz do publicano: sede doador de graças para comigo, como foste para com ele, e tenha misericórdia de mim, Oh Deus!
O que acontecerá nos últimos dias? O que virá depois? Quão infeliz sou! "Quem dará água à minha cabeça, e quem verterá meus olhos em fonte de lágrimas?" (Jeremias 9:1 ; Septuaginta). Quem poderá chorar por mim, tanto quanto mereço? Eu mesmo, não o posso. venham, montanhas, cobrir minha abjeção. O que tenho a dizer? Quantas bençãos tem Deus me concedido, bençãos que apenas Ele conhece, e quantas coisas terríveis em ato, palavra e pensamento eu fiz em minha ingratidão, sempre provocando Meu Benfeitor. E quanto mais longânimo Ele é, mais eu o desdenho, tornando-se mais duro meu coração do que pedras sem vida. Eu não me desespero, mas reconheço Sua grande compaixão.
Eu não tenho arrependimento, nem lágrimas. Por isso suplico a Ti, Senhor, para que eu me converta antes que eu morra e concede-me o dom do arrependimento, para que eu seja poupado do justo castigo.
Oh Senhor meu Deus, não me abandoneis, ainda que eu seja nada diante de Ti, ainda que eu seja completamente pecador. Como poderei tornar-me consciente de meus muitos pecados? Pois a menos que eu seja consciente, severa é a minha condenação. Pois Tu criaste céus e terra, e os quatro elementos e tudo o que é formado deles, como São Gregório, o Teólogo, diz. Eu manterei silêncio quanto ao restante, pois eu sou mui indigno e tenho muitos crimes, para dizer qualquer coisa. Quem, mesmo que tenha intelecto de anjo, poderia compreender todas as bençãos incontáveis, que me foram dadas? E por causa de minha obstinação em não mudar eu os perderei todos.
Pela meditação neste caminho, um homem gradualmente avança ao terceiro estágio da meditação.
Assinar:
Postagens (Atom)